Na década de 40, os bancos chegaram a Pedro Leopoldo. Em 41, foi inaugurada a agência do Banco Agrícola de Sete Lagoas, em 15 de outubro. Em 42, no dia 2 de agosto, abria as portas o Banco de Crédito Real. Nada mais natural em uma cidade que começava a crescer e a diversificar sua economia.
As principais atividades eram a pecuária e a produção de leite, em torno das quais a maioria das fazendas passou a girar, deixando a lavoura em plano secundário, registra o historiador Marcos Lobato em seu “Memória Histórica de Pedro Leopoldo”.
Segundo ele, isso aconteceu devido ao estreitamento dos negócios entre Pedro Leopoldo e companhias processadoras e frigoríficos de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro, que compravam a carne e o leite diretamente dos ruralistas locais.
Também concorreu para o incremento da pecuária o dinamismo da Fazenda Modelo nesta época, que fazia o abastecimento de reprodutores às fazendas de Minas. Nos anos 40, ela estava em seu auge: empregava centenas de funcionários e produzia verduras, legumes, leite, manteiga e queijo, além de mel e cera de abelhas africanas.
A consequência óbvia e que logo veio a acontecer foi a criação de uma cooperativa de produtores. A Cooperativa Agropecuária de Pedro Leopoldo, hoje Capepe, foi fundada em 5 de outubro de 1947 por um grupo de 35 produtores rurais. O objetivo era conseguir maior valor agregado e consumo do leite produzido em Pedro Leopoldo e região.
Segundo o Censo do IBGE, Pedro Leopoldo tinha, em 1940, 3.336 habitantes. Nesta época, a área urbana começa a passar por importantes modificações. O Quadro, onde moravam os tecelões e suas famílias, encolhe com o crescimento da fábrica. O antigo Jockei Clube vira um loteamento. Começam a ser ocupadas as vilas São Geraldo e Magalhães. A cidade tem então três praças: a Dr. Senra, a da Estação e a da Igreja. A rua principal foi finalmente calçada.
Poucas pessoas viajavam nessa época, já que a viagem de trem, mesmo para a capital, era demorada, escreveu José Issa. Uma delas era Chico Xavier, que ia a Belo Horizonte para suas atividades mediúnicas, além de visitar amigos da doutrina (veja depoimento no final da matéria).
No final dos anos 40, as jardineiras levavam quatro horas para ir de Pedro Leopoldo até Belo Horizonte pela Serra das Aroeiras. Era uma viagem perigosíssima, conta Osvaldo Gonçalo do Carmo. Posteriormente, um novo trajeto, passando por Neves, reduziu as dificuldades da viagem. A hoje chamada MG 424 veio com a Cauê e, na década de 70, foi duplicada.
A cidade abriu sua primeira agência dos Correios e Telégrafos em abril de 1942, mesmo ano em que inaugurou, na Várzea Antônio Elias, o Aero Clube de Pedro Leopoldo.
O comércio e os empregos
Segundo Marcos Lobato, Pedro Leopoldo, em 1940, tinha 30 vendas, seis bares, cinco farmácias, seis açougues, duas padarias e três hotéis. Dez anos depois, o comércio era maior, com 43 vendas, 24 bares e botequins, quatro farmácias, vinte açougues, refletindo o crescimento da pecuária e cinco hotéis que hospedavam, entre outros, aqueles que procuravam pelo médium Chico Xavier.
No início da década, trabalhavam na fábrica de Tecidos cerca de 600 pessoas, de todas as idades, inclusive crianças, como era comum nos centros têxteis da época. Era a principal fonte de empregos da cidades e assim foi até a década de 50, com a chegada das cimenteiras. Também grandes empregadores, mesmo que em dimensão menor, eram a Fazenda Modelo e a Rede Ferroviária.
Na primeira metade da década, chegou a Pedro Leopoldo, vindo de Machado, o construtor Danilo Romanelli. Veio com a construtora de Celso Werneck, contratada por Padre Sinfrônio para reformar a igreja matriz, que estava caindo. Danilo acabou se casando com Dona Sônia e aqui se estabeleceu e criou sua família.
Em 1943, é criada a primeira comarca, cujo primeiro juiz de direito foi o Dr. Walter Machado. Enquanto o Judiciário se instalava e preservava sua autonomia, o Legislativo deixava de existir. Entre 1937 e 1946, o Estado Novo, regime ditatorial de Getúlio Vargas, acabou com as eleições no país.
A volta da democracia
Ao fim do Estado Novo, uma nova câmara foi eleita em 1948, composta pelos vereadores Antônio Marcelino Pereira, Antônio Miguel Cerqueira Neto, Aristides Machado Vieira, Christiano Ottoni Gonçalves Ferreira, João Teodoro da Silva, José Camargo de Andrade, José Pedro Filho, Roberto Belisário Viana e Sebastião Lopes Diniz, o Tinoco.
Até 1945, foi prefeito Dr. Christiano Ottoni, que administrou a cidade durante dez anos. De 45 a 46, assumiu a administração municipal Abelardo Sarmento e, entre 46 e 47, João Etelredo Tavares. Em 48, a eleição foi disputadíssima, sempre entre as famílias mais poderosas da região, os Carvalho, os Belisário e os Alves Ferreira, que se casavam entre si, enquanto revezavam-se na prefeitura. O candidato eleito contra os Carvalho foi Ary Feliz Homem Bahia, estreante na política. Em 1950, Caetano Carvalho foi derrotado por Roberto Belisário Viana.
A segunda guerra mundial acontecia na Europa quando, em 18 de setembro de 1944, os pracinhas pedro-leopoldenses foram enviados para os campos de batalha na Itália. Era a Força Expedicionária Brasileira, a FEB, divisão com 25 mil homens que lutou junto aos Aliados na Campanha da Itália. Por volta de 1.500 brasileiros foram mortos na guerra, 450 em combate.
O mundo respirou aliviado com o fim do conflito em 1945, quando, em Pedro Leopoldo, entraram em operação as máquinas da Serraria Malloy, um empreendimento do futuro prefeito Ari Feliz Homem Bahia e Arthur José Orthona Malloy.
Em 1946, é inaugurado o segundo grupo escolar da cidade, o Rui Barbosa, cuja primeira diretora foi Yolanda Pinheiro Chagas. Até então, a cidade só tinha o São José que, por 36 anos, foi o único estabelecimento de ensino na cidade.
No início daquele ano, uma notícia triste: morre Ottoni Alves Ferreira da Silva, filho do fundador da fábrica, chefe político que lutou pela transformação da cidade em município e um de seus grandes benfeitores. Coincidentemente, ele morre no dia 27 de janeiro, aniversário da emancipação. Logo depois, o cinema que ele criara, o Cine Ottoni, sofre um um incêndio em sua sala de projeção e encerra suas atividades.
Cultura, educação, lazer
Mas Pedro Leopoldo não fica muito tempo sem cinema, que tinha aqui grandes admiradores. Entre eles, o médium Chico Xavier, que não perdia uma sessão. Para atender aos aficionados pela tela grande, a cidade ganha em 1947 o Cine Teatro Central, empreendimento de Salvador Tropia e Filhos, instalado onde é hoje a Max Magazine. O primeiro filme, exibido no dia 23 de janeiro, foi o norte-americano “Um Lírio na Cruz” (Till we meet again) estrelado por Ray Milland e Barbara Britton.
Ainda em 1947, vai ao ar a PRKveira, emissora de rádio com grandes programas musicais, qe abria espaço para artistas locais. Dois anos depois, o pessoal da fábrica cria a PRV-8 Rádio Labor, que transmitia da sede do clube Industrial e tinha em sua programação memoráveis programas de calouros.
No dia 8 de agosto de 1948, é fundado o ginásio que, na década de 60, se tornaria estadual com o nome de Colégio Imaculada Conceição. A primeira diretoria era composta por Avelar Alves Maia, roberto Belisário Viana e José Issa filho.
A década de 40 chega ao fim com Pedro Leopoldo e o mundo vivendo o alívio e a alegria do pós-guerra. Época de festas e bailes memoráveis, como os da Liga Operária, do Fubá e do Grupo São José.
Em 2 de abril de 1950, é inaugurada a nova sede do Centro Espírita Luiz Gonzaga, na rua São Sebastião, onde está até hoje. Dia 2 de abril é o aniversário de Chico Xavier. Nascido em 1910, ficou conhecido no Brasil inteiro justamente nessa época. Vinha gente de todo lugar para conhecê-lo e às suas psicografias.
“Chico passou a ser, ainda jovem, a esperança dos tristes, dos desamparados da sorte, dos atingidos por inesperadas e duras provações nos caminhos da vida. Grande foi o movimento de gente do Brasil inteiro que veio à nossa terra em busca de seu amparo espiritual. E com carinho e paciência, ele procurava atender a todos e a todos ajudar”, escreveu José Issa, na primeira edição da revista AQUI PL, em março de 2010.
DEPOIMENTO
Uma amizade com Chico Xavier
Por Carlos Cavalcanti*
“Quando eu era jovem, ia a Pedro Leopoldo passar os fins de semana com Chico Xavier. Conheci muita gente e o ajudei a construir uma casa nos fundos de um terreno onde a irmã dele, Luiza, tinha a casa dela.
Foi uma relação muito importante na minha vida, que começou em 1948. Chico veio a Belo Horizonte participar de uma reunião de jovens espíritas no Centro Espírita Oriente, na rua Aquiles Lobo. Eu estava lá. Ele disse que via iluminação especial em meu entorno e pegou meu endereço para me mandar um livro.
Quinze dias depois recebi a Agenda Cristã, com uma carinhosa dedicatória. Meses depois, um colega de escola que morava em Pedro Leopoldo, Wander, me convidou para passar a Semana Santa na cidade. Ele tinha um pai que fabricava fogos de artifício. Na sexta-feira santa, pedi ao Wander pra me levar na casa do Chico. Eu queria agradecer o presente.
Chico me recebeu em festa e conversamos a noite inteira. Eu com 15 anos, mas com mil projetos de vida, encantei Chico com meus sonhos juvenis e daí surgiu uma grande amizade. Durante cinco anos, eu chegava em Pedro Leopoldo na quinta-feira e Chico me trazia de volta para Belo Horizonte no domingo.
Íamos para a casa de minha mãe e ele ficava encantado com a minha família, que era pequena e simples: eu, minha irmã mais velha e minha mãe. Morávamos em um pequeno apartamento, que se enchia de amigos espíritas, que vinham para um café. Depois íamos todos a pé até a Estação, levando Chico que voltava no trem das 22 horas.
Nessa época, estive à frente de um jornal espírita de nome Seara Juvenil, editado na Imprensa Oficial, que teve bastante prestígio. Eu imprimia o jornal numa gráfica, a Tavares, que ficava em frente à estação ferroviária. Chico trabalhava na Fazenda Modelo. Curioso é que o presidente do Centro Espírita era o Zeca Machado, que também era festeiro da Igreja católica de PL.
São muitas histórias. Tivemos reuniões monumentais de efeitos físicos no Centro. Ficava conversando até alta madrugada com Chico. Eu, cheio de agasalho e Chico em mangas de camisa. Tenho um cartão que Chico me mandou, com desenhos de criança e no qual ele colocou nomes de filhos que vim a ter vinte anos depois.
Lembro que a cidade era pequena e bonita. Tinha o bar do Oscar, casado com Lúcia, sobrinha de Chico. Se você ficar de frente para a Igreja, este bar ficava na rua principal, à esquerda. Telefone ninguém tinha. Havia um posto no qual você entrava na cabine e a operadora, sentada ao lado de um equipamento precário, fazia a ligação. Era na sala da casa da operadora, que se chamava Maria Carrusca. Lembro-me também de um cunhado do Chico, que era delegado de polícia e construtor. Chamava-se Lindolfo.
A partir de 1953, quando me casei, nós reduzimos o contato. Chico foi meu padrinho de casamento e o primeiro filho veio logo. Fui pai onze vezes e trabalhava de 5 da manhã às dez da noite. Queria vencer. Como não tive herança, não havia tempo para nada mais que o trabalho.
Falava com Chico pelo menos uma vez por semana por telefone, o que reduziu-se a quase nenhuma comunicação, quando ele se mudou para Uberaba. Confesso que fiquei revoltado por ele ter saído de Pedro Leopoldo. Essa cidade sempre foi para mim um santuário”.
Carlos Cavalcanti tem 87 anos e está no mercado imobiliário de Belo Horizonte desde 1960, quando começou a lançar pequenos prédios no bairro Santo Agostinho e, a partir de 1970, condomínios horizontais na região de Nova Lima.
Fontes de informações e fotos: Arquivo Geraldo Leão, Memória Histórica de Pedro Leopoldo (1994/Marcos Lobato Martins), Memória Histórica de Pedro Leopoldo (2015/José Issa Filho), A verdadeira história da origem de Pedro Leopoldo (1995/Elysio Alves Gonçalves Ferreira), Esta Pedro Leopoldo, fatos, coisas e pessoas da minha cidade (1995/Osvaldo Gonçalo do Carmo) revista e jornal AQUI PL, página no Facebook Pedro Leopoldo e sua História, sites sobre história das Ferrovias, política de Minas e prefeitura de Pedro Leopoldo