Quando surgiram e se massificaram, há coisa de dez anos atrás, as redes sociais prenunciaram uma era de democracia plena, em que todo mundo teria sua voz, fosse para reclamar, debater ou mobilizar. A universalização do acesso à informação e o melhor, da possibilidade de ser o agente, o emissor dos fatos do mundo, quebrando o monopólio de uma mídia cara e com interesses definidos.
No entanto, o que vimos foi uma deturpação desse panorama. E chegamos à fake new que é disseminada mesmo que a pessoa saiba que a notícia é mentirosa. Dos sites e blogs de conteúdo oportunista, sensacionalista, simples espaços de monetização, como se diz agora. Afinal, quanto mais cliques na notícia extremista e violenta, mais dinheiro na conta de seu emissor.
E aí é hora de voltar a ouvir os pensadores e, em especial, Zigmunt Bauman que, aos 90 anos, é uma das vozes mais sensatas do nosso tempo. Para ele, ao criar sua própria comunidade nas redes sociais, as pessoas controlam com quem se relacionam. Afinal, há ali a ilusão de que é possível escolher, adicionando ou deletando amigos. Isso faz com que os indivíduos se sintam um pouco melhor, porque a solidão é a grande ameaça nesses tempos individualistas. Mas é tão fácil adicionar e deletar amigos que ninguém mais desenvolve ou se interessa por habilidades sociais. Aquelas que são desenvolvidas na rua, no trabalho, no contato real entre as pessoas – de civilidade, de respeito, de simpatia, de real solidariedade. O contrário do ativismo de sofá, de simplesmente curtir com um clique uma coisa boa que outra pessoa está fazendo pelo mundo.
Para Bauman, o diálogo real não é falar com gente que pensa igual a você. Não é evitar a controvérsia. Não é se afastar do diferente. Muitos usam as redes sociais não para unir, não para ampliar seus horizontes, mas para se fechar em suas zonas de conforto, onde o único som que escutam é o eco de suas próprias vozes e vêm apenas os reflexos de seus próprios rostos. Ou dos rostos que gostariam de ter.