‘Liga a câmera, por favor.’ ‘Desligue o microfone, por favor.’ ‘Parem de conversar no chat, por favor.’ Confere quem tá na aula. Manda mensagem pra quem faltou. Formata o notebook. Aumenta a velocidade da internet. ‘Todo mundo faz silêncio, vou começar minha aula!’ Última aula do dia. Ufa! Vou desligar tudo agora! Não, pera, tem reunião pedagógica….”. Este é apenas um trecho do texto que, por mostrar a louca rotina dos professores durante a pandemia, acabou viralizando nas redes sociais.
Some-se a este “novo normal” nada normal os roteiros, os equipamentos necessários e os programas para tornar as aulas mais palatáveis… e é impossível não ser solidário com a luta que os nossos mestres travaram e travam neste período. Um desafio que já faz parte do dia a dia desses profissionais que, mesmo em tempos sem pandemia, têm diante de sai a missão de formar cidadãos questionadores e criativos, mesmo nas condições mais desiguais e diante de uma realidade cada vez mais desafiadora.
De março do ano passado para cá, além de ensinar as matérias para as quais são licenciados, os educadores tiveram que aprender de tudo: de saúde mental a informática; de plataformas de videoconferências a ferramentas de realidade virtual, incorporando tecnologias para captar a atenção de seus alunos diante da tela do computador ou do telefone.
Por outro lado, a pandemia deixou ainda mais clara a desigualdade de acesso e a falta de formação de professores. A maior parte deles não tinha experiência em aulas remotas e 80% dos alunos, por sua vez, tinham alguma dificuldade de acesso à internet. Esta é apenas uma amostra do que ambos estão enfrentando nas escolas brasileiras, nas quais as iniciativas individuais dos professores fazem sim a diferença.
Fomentar a criatividade e a capacidade de resolver é o grande desafio das escolas. O especialista em Educação Alex Beard acredita que ensinar será o trabalho mais importante do século 21. “O único recurso ilimitado que temos é a inteligência humana, a engenhosidade humana, nossa capacidade de resolver problemas. Os professores são aqueles que cultivam esse potencial humano”, define Beard.
Neste 15 de outubro, dia do Professor, o site AQUI PL ouviu as experiências de alguns professores pedroleopoldenses que estão voltando às salas de aula. Quisemos saber como tem sido ensinar em tempos de pandemia e, consequentemente, conhecer suas tentativas de desenvolver ferramentas e métodos inovadores para reduzir desigualdades, amenizar prejuízos ao aprendizado e motivar seus alunos.
O maior desafio de uma longa carreira
Sálvio Pires de Souza – professor na EE Imaculada Conceição
Exercer a docência nesse tempo de pandemia tem sido o maior desafio de minha longa carreira no magistério. Quando as aulas presenciais foram suspensas, em 18/03/2020, a expectativa era de um prazo curto, mas estávamos enganados. Em maio daquele ano começaram as aulas de forma remota. Este formato, infelizmente, só ampliou a distância entre os alunos que têm uma boa estrutura em casa, que permite e facilita a aprendizagem, daqueles que não possuem tal estrutura. Muitas dificuldades surgiram, nesse momento: alunos sem acesso à internet, sem celular, sem saber como acessar o Classroom, entre outras. As apostilas ofertadas pelo Estado deixaram muito a desejar, bem como as aulas pela Rede Minas. Nós, professores, tivemos que nos adaptar e estamos aprendendo a cada dia, no sentido de minimizar o prejuízo dos nossos alunos com as limitações do ensino dessa forma e com tantos equívocos. Estamos na torcida pelo retorno à normalidade, com aulas presenciais num ambiente seguro, como nos tempos anteriores à pandemia.
Todos nos temos histórias para contar
Érica Regina Morais – professora de História na Escola Municipal José Pedro Filho e na Escola Estadual Imaculada Conceição
O ensino em tempos de pandemia trouxe outros moldes de ensino para alunos e professores, muitos estudantes não têm acesso à tecnologia e assim têm dificuldade em manter uma rotina de estudos, o que reforça ainda mais a desigualdade social do nosso país.
Desde o início de 2020, nós professores buscamos nos adaptar a essa nova realidade, o ensino remoto não é tarefa fácil, como muitos imaginam. Para minimizar os prejuízos aos nossos alunos precisamos nos reinventar todos os dias, fazendo cursos e assistindo inúmeros tutoriais de como lidar com as novas ferramentas de trabalho: Google Formulários, Google Sala de Aula, Google meet, Zoom, Grupos de WhatsApp, Canvas e outras plataformas utilizadas como estratégias pedagógicas.
Também precisamos preencher planilhas, anexos, criar materiais variados, atender aos grupos de WhatsApp, tirar dúvidas no Google Sala de aula, responder e-mails, fazer cursos de capacitação, participar de reuniões online, fazer relatórios, diários, alimentar plataformas, gravar aulas, corrigir atividades e avaliar os alunos, incentivar os que não desenvolvem as atividades, ligar para os responsáveis quando necessário e fazer busca ativa para que os alunos que estão desanimados retornem aos estudos.
Não podemos deixar de citar que nós professores precisamos arcar com nossos próprios recursos para adquirir as ferramentas utilizadas no trabalho remoto. Essa realidade que estamos enfrentando infelizmente resulta em baixo rendimento escolar e baixo índice de participação dos alunos, afinal apesar do grande esforço sabemos que nada substitui professor e alunos em sala de aula.
A reinvenção da educação foi necessária, porém essa grande demanda gera sérios problemas emocionais e stress decorrente da sobrecarga de trabalho. Atualmente estamos trabalhando em ensino híbrido, ou seja, a organização de períodos online e períodos presenciais, “combinando” as atividades em sala de aula com as atividades digitais.
O aspecto positivo desse momento histórico é que os professores vêm se aperfeiçoando cada dia mais em buscar novas ferramentas de ensino, aprimorando suas práticas docentes, para envolver e estimular os alunos a aprenderem além dos muros da escola. A experiência do ensino remoto trouxe diversas mudanças, mas esperamos que a principal seja a valorização do professor, profissional esse que nunca se negou a buscar alternativas afim de superar os desafios.
Hoje, dia 22 de setembro de 2021 recebi a segunda dose da tão esperada vacina, e renova-se em mim um sentimento de esperança que as coisas vão melhorar para todos nós. A pandemia do COVID-19 trouxe-nos muitas tristezas, porém trouxe também muito aprendizado; todos nós temos muitas histórias para contar.
Os alunos não pensam mais dentro da caixa
Sônia Christo Aleixo Alves de Brito – professora do Curso de Administração
Meu casamento com a educação começou cedo, aliás, muito cedo mesmo. Acho que é uma herança genética! Meu avô era médico e Professor da Escola de Medicina da UFMG, minha mãe era professora do Estado.
Comecei minha carreira cedo como bancária e fui desde o atendimento de agências até a área de Mercado Financeiro (investimentos). Mas, como eu me formei em Licenciatura Plena em Matemática muito cedo e estava no banco, num instante consegui dar início aos treinamentos sobre Mercado de Capitais com os colegas. Assim, me mantinha ativa na sala de aula fora do horário de trabalho.
Ainda durante o período em que estava trabalhando no banco, estudei Administração de Empresas e decidi que seguiria a área financeira. Fui para uma indústria de tintas em Betim, para gerenciá-la e confesso que a experiência, apesar de vários desgastes, foi muito positiva!
Depois de alguns anos, resolvi focar totalmente na sala de aula e recomecei com treinamentos, aulas particulares multidisciplinares etc. Aos poucos entrei nas escolas para lecionar matemática, fiz licenciatura em Física, me especializei em Finanças até que, finalmente, fui lecionar em faculdades particulares nos cursos de Administração, Recursos Humanos, Gestão Comercial e Ciências Contábeis. Muito desafiador…
Fui para o SESI de Matozinhos lecionar nos cursos técnicos de Administração e Informática e auxiliar no curso técnico de Eletrotécnica. Mais tarde fui para o SENAC, onde em 2016 consegui montar um Feira de Empreendedorismo juntamente com os alunos, com o objetivo de estimular o espírito empreendedor e o trabalho em equipe. Trabalhei como orientadora do Projeto Vitrine no SEBRAE de PL e fui professora da Escola Magno Claret de matemática.
Em 2017, já na Escola Estadual Imaculada Conceição como professora do curso de Administração, desenvolvi um projeto “Feira de Empreendedorismo” juntamente com os alunos e também com o apoio incondicional da professora Eliane Matilde. Desde 2020 retornei para a Escola Estadual Padre Menezes em Lagoa Santa e neste ano de 2021 estou também de volta para o Imaculada Conceição onde ainda leciono e estou Coordenadora do curso de Administração.
Complementando, trabalhei ainda com projetos de ressocialização em presídios de Pedro Leopoldo, Ribeirão das Neves e Sete Lagoas apresentando cursos rápidos de Empreendedorismo, ofertados pelo PRONATEC. Paralelamente à todas essas atividades, lecionava Matemática e Geometria no curso COOTEPE, na cidade de Pedro Leopoldo.
A pandemia, que teve início em 2020, trouxe vários desafios e incertezas. Enfim, problemas de toda natureza. Os alunos ficaram dentro de casa, muitos deles sem acesso à internet ou com acesso limitado. Além disso, a maioria infelizmente não sabia utilizar o e-mail e nunca tinha acessado o Google Classroom anteriormente. Criamos tutoriais, explicamos, mas as dificuldades foram inúmeras e ainda permanecem. São muitos obstáculos a serem vencidos diariamente. Nós professores tivemos que nos reinventar e buscar nos atualizar cada vez mais para que conseguir passar por esta fase com menos obstáculos. Mas tem muito mais desafios pela frente!
Agora o maior deles está sendo conciliar um curso de gamificação com as atividades profissionais, cujo objetivo será me “aproximar” ainda mais destes alunos que não aceitam mais pensar só “dentro da caixa” e trazê-los de volta para a escola!
A pandemia e seus desdobramentos na educação
Edgard Lucas Silva Carvalho – Professor de Língua Portuguesa
Com a paralisação das aulas presenciais em decorrência da pandemia de Covid-19, a educação, que há décadas estava formatada e envasada hermeticamente, teve que, obrigatoriamente, extrapolar o seu antigo invólucro e modernizar-se da noite para o dia.
Como consequências desse processo, podemos observar diversos inconvenientes, como o absenteísmo, a evasão invisível de alunos, além, claro, dos prejuízos sociais e de aprendizagem que ficaram nítidos nesse processo.
O fato é que o mundo já havia evoluído em aspectos sociais e tecnológicos, dentre tantos outros fatores, os quais não foram introduzidos em nosso modelo de educação. Uma manobra que impusesse isso, com a velocidade como ocorreu, certamente deixaria uma marca negativa.
Ainda que haja um esforço hercúleo de educadores por todo o país, haverá, fatalmente, uma defasagem no conteúdo ensinado/aprendido, fruto do formato inovador que se apresentou. Não há uma unidade de medida para isso. Os impactos e efeitos decorrentes do ensino remoto dependerão do modelo adotado por cada sistema de ensino.
Resta claro que há uma defasagem grande de conteúdos em consequência da mudança de formato pedagógico que se impôs. Tal fenômeno só será superado com o compromisso e a autonomia dos alunos em revisar, buscar fontes e criar fichas de estudo, num sistema que se assemelha ao da renomada Escola da Ponte, em Portugal.
Contudo, as novas metodologias vieram para ficar. Não há como retroceder em questões como o uso da tecnologia como ferramenta pedagógica, por exemplo. Outro ponto positivo a se destacar é a aplicação do modelo de sala de aula invertida ou flipped classroom, no qual os alunos aprendem o conteúdo antes de o professor ensiná-los.
No modelo de sala de aula invertida, a aprendizagem ocorre da forma inversa a qual estamos habituados. Assim, o professor separa alguns materiais para os alunos (textos, artigos, vídeos, filmes, podcasts, etc) sobre o tema e envia para os alunos, que estudarão esse conteúdo por conta própria, a fim de promover uma discussão mais enriquecedora.
Conclui-se que, ainda que possa revelar-se como um atraso, a pandemia impulsionou a modernização do processo de ensino/aprendizagem, tanto sob a ótica institucional quanto sob a perspectiva individual, e, certamente, se bem conduzido, auxiliará na formação de cidadãos autônomos, capazes de se autogerirem em todas as esferas da vida e convivência humanas.
Ser professor é ser aprendiz a vida toda
Eliane Matilde – professora nas escolas José Pedro Filho e Imaculada Conceição
Eu me vi ultrapassada. Frustrações diversas me abalaram e até hoje o fazem.
O domínio digital se tornou exigência curricular. Longe dos limites da escola, mas presente 24 horas no modo on-line, mesmo seguindo horários, pois a internet não para.
A mudança já se anunciava há um bom tempo na rotina da sala de aula, mas não enxergávamos, não aceitávamos talvez, a distância que crescia entre o Ensino Tradicional e o que urgia no mundo já dominado pela tecnologia.
Enfim, o celular considerado um enorme problema, um vilão da rotina na aprendizagem, passa a ser, de repente, o recurso mais requisitado, gênero de primeira necessidade. Como em um passe de mágica, ele se transformou na própria sala de aula nas palmas das mãos de toda a comunidade escolar. Por sinal é através dele que a maioria dos alunos e professores se comunicam, trocam mensagens, resolvem problemas. De onde estiver, não importa, a aula acontece de várias formas. Um mundo diversificado, que pode ser produtivo em casa, por exemplo, de uma rede para se deitar até as redes de comunicação digital.
Nós, professores, vimos o mundo dar voltas inimagináveis; em meio às dificuldades da pandemia, como tantos outros profissionais também, fomos levados à mudança de hábitos e obrigados a nos adaptar ao novo padrão de aulas, adotando recursos diversos, aprendendo a nos fazer, continuamente, profissionais com o necessário potencial digital.
Com o retorno semipresencial, novas adaptações surgem e surpreendem. O uso de máscara se torna requisito fundamental dos protocolos, salas com número bastante reduzido de alunos que, para frequentarem as aulas, participam de uma escala de rodízio em regime de Bolhas (um nome nada atraente, se for analisar bem…).
Com as aulas de Educação Física na quadra suspensas, o distanciamento pregado religiosamente e os abraços negados, uma certa melancolia se concretiza, o que exige do professor repensar sua prática e, mais uma vez, buscar a renovação de ideias, a criação de novos métodos. É necessário ousar.
Uma nova era chegou para a Educação. E, como sempre, ser professor é ser aprendiz a vida toda.
Duas realidades, duas soluções
Thaynara Santos – Professora de Língua Portuguesa e de Redação, especialista em Ensino de Gramática pela UFMG
A pandemia trouxe consigo o ensino remoto, que afetou imensamente professores e alunos. Na escola pública, o desafio foi alcançar o estudante e fazê-lo entregar as atividades propostas. Muitos não tinham o aparato tecnológico adequado para cumprir as tarefas necessárias (faltava internet, computador e, em algumas situações, até mesmo um celular que suportasse tantas demandas).
Já na escola particular, o desafio foi outro: manter os alunos motivados e participativos nas aulas on-line síncronas. Nessa realidade, não faltavam equipamentos tecnológicos, mas sim o interesse dos estudantes por esse novo formato de ensino estabelecido no isolamento social.
Em relação à primeira realidade, a solução colocada em prática foi a chamada busca ativa. Grande parte dos professores, assim como eu, empenharam-se em manter uma comunicação mais efetiva com seus alunos, buscando contato direto com as famílias, e até com os próprios estudantes, através de ligações e mensagens no WhatsApp.
Quanto à segunda realidade, a intervenção aplicada foi elaborar e aplicar, durante as aulas on-line síncronas, atividades gamificadas que envolviam os conteúdos gramaticais estudados nas aulas de Língua Portuguesa. Por meio de sites e aplicativos, como o Kahoot e o Wordwall, foi possível alcançar o aluno e aumentar o seu engajamento em relação à minha disciplina.
Os desafios da educação pública pós-pandemia
Delduque Dehon Silva – professor de Química no Imaculada
Os desafios trazidos pela pandemia para a área da educação devem ser adequadamente inseridos na realidade dos três agentes que tornam a educação pública possível: os estudantes e suas famílias; os professores, e o Estado.
A pandemia atingiu de modo diferente os estudantes do ensino básico das escolas públicas. Muitos daqueles que estão no ensino fundamental (1º ao 9º ano), que é o grupo que mais necessita de uma intervenção pessoal do professor, pois estão aprendendo os conteúdos básicos das diversas disciplinas, tiveram o acompanhamento dos pais durante o isolamento social.
Mas nem sempre estes pais puderam auxiliá-los adequadamente. Para todos, o maior desafio a ser enfrentado será o de redespertar o interesse, rever o que não foi aprendido, voltar a habituar-se aos estudos e a realizar tarefas propostas pelo professor. As famílias continuarão a ter um papel importante nisso.
Já os estudantes do ensino médio, considerados mais “maduros”, não tiveram o acompanhamento das famílias, pois elas os consideram adultos suficientes para empreender os estudos com independência.
Se em tempos normais, de aulas presenciais, há uma dificuldade enorme destes estudantes se habituarem aos estudos, criando horários de estudos e realizando as tarefas propostas; com o isolamento social e o distanciamento, essa dificuldade tornou-se um caminho intransponível.
Se por um lado as famílias não os acompanharam e a situação econômica piorou, por outro, a escola ofereceu a eles um ensino de difícil acesso, pouco criativo, dos mesmos moldes tradicionalistas. Muitos abandonaram os estudos e foram buscar um trabalho remunerado.
Se, para a maioria deles, a educação tinha pouco significado, na pandemia perdeu todo sentido. O desafio destes estudantes será o de redescobrir a educação como caminho para melhoria de vida, afinal o Enem continua vivo, as escolas técnicas continuam funcionando.
Aos que abandonaram os estudos, somente o tempo irá despertá-los. Irão conviver com um diploma (pois é quase impossível que sejam reprovados) sem terem o conhecimento básico da matemática, do português e das ciências. Se isto já acontecia em tempos normais, piorou com a pandemia.
Os professores, por sua vez, puderam continuar suas aulas através de um sistema digital on line. Porém, muitos não o utilizaram, pois nunca se prepararam para tal. Um material digitalizado ou impresso, feito pelo próprio Estado, foi distribuído aos estudantes como opção de ensino. O professor passou a ser um instrutor de atividades.
A principal atividade deste material foi a resolução de exercícios que foram devolvido ao professor e serviram ao cumprimento da carga horária e à nota para passar de ano. Ensinar e aprender sumiram na pandemia. O esforço mental transformou-se em braçal e pronto.
Muitos professores ainda tentaram trazer o ensino para essa realidade, mas nem sempre conseguiram. Restou-lhes a incerteza de se aquelas atividades foram feitas por aquele estudante ou não.
O desafio pós pandemia, colocado ao professor é e continua sendo o de incentivar o estudante a aprender a ler, a interpretar e a compreender por si mesmo o mundo que o rodeia.
Ao iniciar o ano letivo de 2022 com as salas cheias, sem tempo de encontrar seus pares e ainda preso aos modos arcaicos de trabalhar educação, o professor continuará cumprindo uma carga horária extensa porque seu salário é um dos piores do mundo. Por isso, o desafio permanecerá como sempre foi: dependendo do esforço individual de cada um.
Aquilo que a mídia tem colocado como “caminho para uma nova educação”, ao sugerir o uso dos meios digitais, das aulas “on line”, dos recursos da robótica, etc., continuará sendo, para o professor das escolas públicas, uma dificuldade tremenda, pois a ele não é oferecido aprimoramento e muito menos as ferramentas necessárias. Para o Estado, o professor deve se aprimorar nas suas horas vagas, sem direito a remuneração por este trabalho extra.
A partir do ano de 2022 o currículo do ensino médio sofrerá grandes alterações. Se até então, os 3 anos correspondentes a ele tinham uma carga horária de 2.400 horas voltadas para os diversos conteúdos, agora ela será de 3.000 horas, sendo 1.800 horas destinadas a aprendizagens comuns e obrigatórias (português, matemática, ciências) , e 1.200 horas voltadas para o estudante em relação a suas expectativas profissionais e independência pessoal.
O novo ensino médio buscará desenvolver diversas competências e habilidades no estudante, como se isso já não fosse feito. Novamente o Estado considera que mudar o que está escrito nas leis, nos livros, é mudar o ensino. Por isso, o desafio colocado a este Estado, na figura de seus representantes (Presidente, Governadores, Deputados e Senadores) continua sendo o de investir dinheiro na educação.
Pagar bem o professor porque isso significa colocar e manter na escola bons profissionais e incentivar o aprimoramento. Também é necessário garantir boas bibliotecas, que funcionem adequadamente, que sejam amplas e possam estar disponíveis para toda a comunidade; e dotar as escolas de ferramentas adequadas e em quantidades suficientes para que o trabalho dos professores seja bem feito.
A escola sempre será democrática e libertadora
Doli Lithz – Professora aposentada
Estudei na década de 60 numa escola de lata. Tinha paixão e fascínio pelas professoras, pelo arroz doce e pelos poemas que declamávamos em dias de festas.
Fui alfabetizada em uma cartilha que defendia a reforma agrária do governo Jango, nela os personagens perderam a terra, venderam a Maria (uma vaca) e mudaram-se do lugar. Cartilha essa que, “ misteriosamente” foi substituída.
Me formei professora e hoje sou aposentada, estive em sala de aula na rede pública de educação por aproximadamente 30 anos. Sempre acreditei numa educação pública de qualidade, à qual os estudantes tenham acesso e nela permaneçam socializando o saber. Sempre defendi a educação pública e sei desde os tempos do Nhazinha Carvalho que a escola foi e sempre será por excelência uma instituição democrática e libertadora.
Defendo a educação como sendo uma das melhores maneirais de mudar a sociedade e que ela exerce uma função decisiva no crescimento da cidadania, na formação da consciência e da dignidade humana.
Nesse Dia dos professores, agradeço a todos os meus ex-alunos e colegas do magistério a oportunidade de aprender sempre um pouco mais.
Um Viva a todos esses verdadeiros guerreiros que inspiram e despertam alegria nos estudantes pelos ensinamentos da vida e pela luta cotidiana. Que seus esforços sejam recompensados com salários dignos, respeito, reconhecimento e por melhores condição de trabalho.
Superando desafios da vida pessoal e profissional
Regis André – Diretor da FPL Educacional
Segundo Paulo Freire, “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.” Assim, o docente, mestre na arte de ensinar e de aprender aprendendo, se revela o grande responsável pela transformação positiva, através da formação com qualidade, nas vidas das pessoas, da comunidade, e do Estado.
Aliás, neste momento de excepcionalidade em que estamos vivendo nos últimos tempos, professores e professoras ainda tem superado todas as expectativas, ensinando aos discentes a resiliência para superar todos os desafios da vida pessoal e profissional, e a solidariedade com o próximo.
A disponibilidade para se doar e para aprender sempre, e a capacidade de reinvenção, são marcas dos docentes que certamente ficarão guardadas na memória dos estudantes. A FPL Educacional tem um imenso respeito e orgulho pelo trabalho dos seus professores e professoras, que, com conhecimento, habilidade e atitude, fazem a diferença para a IES, para os estudantes, para a comunidade e para o país. Parabéns aos docentes da FPL!!!
Ser professor
Silvio Xavier – Professor de Tecnologia das Construções e Geotecnia dos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura no Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix
Ser professor é… doar um pouco de si. É levar informações e compartilhar conhecimento em um caminho que já está sendo percorrido, buscando criar vínculos e sendo um facilitador para a nova geração.
Ser professor é… buscar continuamente o desenvolvimento humano.
Ser professor é… trabalhar com dedicação e amor.
Ser professor é… ser referência de vida.
Um trabalho premiado de pesquisa
Janaina Ferreira Hudson Borges – Professora de Ciências/Biologia
Sou professora efetiva da Escola José Elias da Costa desde 2011. Em 2014 e 2015, desenvolvi minha pesquisa de Mestrado com meus alunos e nela propus o desenvolvimento de vídeos sobre parasitoses a partir dos Temas Geradores de Paulo Freire. A escolha para produção de vídeos se deu em função do uso e interesse dos estudantes pelas tecnologias. Já as parasitoses foram selecionadas como tema em função dos relatos trazidos pelos alunos (muitos deles de área rural) ao longo dos anos em que trabalho lá. Parte das parasitoses relatadas tem relação com alguma modificação ou uso do ambiente. Então essa foi uma possibilidade de trabalhar um currículo de ciências que fizesse sentido e que valorizasse o interesse deles pelo uso de tecnologias.
O trabalho desenvolvido buscou explorar questões socioambientais que fazem parte do cotidiano dos alunos, procurando relacioná-las aos impactos para a saúde da população. Para compreender por que essas doenças ocorriam nessas situações e os problemas associados a isso, os alunos fundamentaram suas pesquisas em materiais produzidos por instituições de pesquisa renomadas no país, como a Fiocruz e, ao final, produziram vídeos contextualizando os resultados de suas observações do meio ambiente e das pesquisas.
Depois que finalizei o mestrado fiz outros projetos na escola, entre eles o da horta escolar, com o suporte técnico da Emater e apoio da Abraço e da Intercement, que doaram alguns dos equipamentos necessários para a escola, além de alunos. Dessa forma, mais uma vez conseguiria trabalhar um currículo que faria sentido para os alunos, colocando em diálogo os conhecimentos tradicionais oriundo da realidade desses estudantes com os conhecimentos científicos.
Em 2020, tive a oportunidade de participar da I Mostra de Educação e Saúde da UFMG (evento pertencente a UFMG Jovem) com o relato de minha pesquisa de Mestrado e fui premiada em 1º lugar na categoria Ensino Fundamental.
Em função dessa premiação, pude selecionar dois estudantes da Escola, Guilherme Armando Ribeiro Marques e João Vitor Félix Miranda, ambos do 7º ano, para que cada um deles recebesse uma bolsa de Iniciação Científica Júnior, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, entidade ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Para tanto, esses alunos participariam das atividades do projeto adaptadas ao contexto de ensino remoto emergencial.
O trabalho desenvolvido pelos bolsistas sob minha orientação foi inscrito na II Mostra de Educação e Saúde da UFMG. No último dia 11/09, fomos premiados novamente. Dessa vez, ficamos em 2º Lugar na Categoria Ensino Fundamental, com a apresentação do trabalho “Uma sequência de ensino sobre o Tema Gerador Parasitoses e a produção de vídeos por estudantes do ensino fundamental”.
A participação em eventos como a Mostra de Educação e Saúde e UFMG Jovem tem por objetivo propiciar espaços de encontro e intercâmbio de ideias entre a Universidade e a Educação Básica e Profissional, bem como entre professores e estudantes de escolas de todo o estado de Minas Gerais, estimular o pensamento crítico e a criatividade, e valorizar a discussão sobre temas de impacto social. Considerando os novos tempos que se apresentam, o trabalho desenvolvido, além de inovador em relação às metodologias de ensino e aprendizagem adotadas, favoreceu o protagonismo dos estudantes e a construção de habilidades e competências essenciais para o mundo atual.
Cabe destacar que houve a tentativa de expandir a participação para todos os meus alunos da escola, mas não foi possível inserí-los da forma desejada e adequada. A expectativa é de que futuramente seja possível ampliar a participação de meus alunos nessa e em outras propostas, em diálogo com as demandas atuais de ensino.
Para quem tiver interesse em conhecer um pouco mais sobre os trabalhos:
Vídeo do relato do trabalho submetido à I Mostra de Educação e Saúde da UFMG: https://www.youtube.com/watch?v=mNZWextpt0I
Vídeo do relato do trabalho submetido à II Mostra de Educação e Saúde da UFMG: https://www.youtube.com/watch?v=TO-BaAwgkSY
Tecnologia para encurtar distâncias
Sônia Rodrigues Costa – Coordenadora Pedagógica da Escola Sebrae EFG-FPL
A pandemia chegou provocando mudanças na vida de todos nós e no funcionamento de todos os setores da economia, em especial, nas atividades educacionais. Com as aulas presenciais sumariamente suspensas, escolas e educadores foram chamados a se reinventarem, adotando as mais diversas formas remotas de seguirem com seus compromissos de formação.
Neste sentido, o que vivenciamos foi confirmar a capacidade de escolas e educadores utilizarem de resiliência e criatividade para se apropriarem das tecnologias e inovações disponíveis para chegarem ao acesso dos alunos e fazerem acontecer o processo de ensino-aprendizagem.
No Ensino Médio e Curso Técnico da Escola Sebrae EFG-FPL e na graduação da FPL, as aulas remotas foram iniciadas com apenas uma semana de paralisação, em março de 2020, e seguiram com aulas síncronas diariamente, aulas online com encontro virtual entre professores e alunos, com a utilização dos mais diversos recursos: ambiente virtual Moodle, Google Meet, Zoom e outros.
Na Escola Sebrae FPL, os professores utilizaram aulas expositivas, mesas digitais, leituras, pesquisas, exercícios, trabalhos, sala invertida e outras metodologias ativas de aprendizagem para garantir o desenvolvimento de todos os conteúdos programados. Vários projetos foram realizados, como o Tutoria, a Empresa Simulada, o Vitrine, a Páscoa Solidária, o Sarau Cultural, a comemoração Junina, visitas técnicas virtuais, projeto Profissões e muitos outros. O ensino remoto proporcionou a participação em feiras, lives e aulas com a participação de especialistas que atuam em outros países, como a Feira Internacional de Empresas Simuladas, aulas de biologia com geógrafo e professor na Polônia, aula com professor mestre e doutorando em Lisboa, aula de educação física sobre benefícios e possibilidades do esporte com profissional técnico de PL e jovem atleta do futebol profissional feminino de base nos Estados Unidos.
A Escola Sebrae EFG-FPL utilizou a tecnologia para encurtar distâncias e realizar a formação de jovens empreendedores na preparação para o Enem, para o mercado e para a vida, mantendo a qualidade, explorando novas oportunidades e inovando na educação em tempos de pandemia.