O pedágio está aí. Vamos ficar de braços cruzados?

O pedágio está aí. Vamos ficar de braços cruzados?

Um artigo de Matheus Borges – 

Não há lugar melhor para se bater um bom papo, “prosear”, saber as novidades, conhecer pessoas e fazer novas amizades do que nas barbearias e salões de beleza da cidade.

É por lá que as informações correm na velocidade do vento e que ficamos sabendo de tudo o que está acontecendo no pequeno universo das nossas comunidades. Quem morreu, ficou rico, está doente, chegou ou partiu. Política, futebol, fofocas ou mesmo a tal da “conversa jogada fora”. É muito conteúdo para pouco tempo de presença física – em média, pouco mais de uma hora, se muito!

Pois, na semana que passou, lá fui eu fazer cabelo e barba e ficar por dentro do noticiário na barbearia que frequento. Logo de cara, encontro com um “especialista em relações internacionais”, formado nas redes sociais!

Começou explicando o porquê de Donald Trump querer se apropriar do Canal do Panamá: “Se ele não tomar, a China pega para ela”! Afirmou, ainda, com convicção, que o presidente eleito americano irá invadir a Venezuela e derrubar o Maduro quando tomar posse! “Se o Bolsonaro fosse o nosso presidente, o Brasil invadia junto”, vaticinou o jovem!

Por fim, uma breve passada pelo entrevero entre Rússia e Ucrânia, com o Putin “disparando um míssil intercontinental em cima dos ucranianos”. Bom, perguntei de onde ele retirava todas essas informações, principalmente sobre o tal míssil intercontinental que, como o próprio nome fala, serve para atingir um alvo em outro continente –  Rússia e Ucrânia são países vizinhos.

O rapaz sacou o celular e leu a matéria que, de acordo com ele, estava publicada na CNN. Por fim, ele quis saber a minha opinião sobre a guerra entre os dois países. Respondi que no momento estava mais preocupado com as questões da nossa cidade, principalmente com a privatização das rodovias que ligam Pedro Leopoldo a Belo Horizonte e demais municípios vizinhos do vetor norte, já que teremos várias praças de pedágios instaladas, inclusive entre PL e BH.

“Pedágio? Não estou sabendo! Trabalho em Belo Horizonte, vou e volto todo dia. Se tiver pedágio, vou ter que arrumar serviço em outro lugar”, respondeu, espantado com a informação recebida.

Mais espantado fiquei eu – na minha ingenuidade – ao constatar como a desinformação, disseminada através das redes socais, leva pessoas a viverem em uma espécie de “universo paralelo”, totalmente distinto da realidade que de fato afeta o nosso cotidiano.

Fato é que o pedágio está aí – nas nossas caras – o que para um município como Pedro Leopoldo pode significar o estrangulamento da economia local. Todos os dias, milhares de pedro-leopoldenses partem rumo a Belo Horizonte – de ônibus ou de carro, seja particular, uber ou carona. Tantos outros se deslocam para Sete Lagoas. Trabalhadores, estudantes e comerciantes.

Qual seria o impacto econômico-financeiro para o setor de comércio e serviços do nosso município representado pela instalação desses pedágios? Quantos cidadãos e cidadãs perderão os seus empregos na capital e em outras cidades ou terão uma queda considerável em suas rendas mensais? O poder público municipal já fez esses questionamentos, bem como os devidos estudos para tais respostas?

Vamos ficar de braços cruzados, discutindo a guerra da Ucrânia nas barbearias da cidade, enquanto os nossos jovens deixam de estudar e fazer um curso superior, por não terem como pagar e suportar um transporte ruim e cada vez mais caro?

E as autoridades locais? Vão continuar em silêncio sabendo o que nos espera em termos de desemprego, queda de arrecadação e recessão? Lembro que o prefeito eleito e em início de mandato, quando oposição, se manifestou contra a instalação dos pedágios entre PL e BH, inclusive através de vídeos nas redes sociais. Espero que ele mantenha tal posição e venha a público, o mais rápido possível, para tomar frente nas manifestações e negociações com o governo estadual.

A nós, cidadãos (ãs), que seremos afetados de uma forma extremamente negativa se tal medida for implementada, cabe a luta, a organização e a participação popular, com fundamentos e argumentos. O que não dá é ficarmos na letargia, parados, esperando o míssil intercontinental do Zema implodir a economia de Pedro Leopoldo, começando pelos bolsos dos mais pobres, do povão trabalhador. A conta sempre sobra para eles – povo. Que dessa vez não seja assim e que façamos ser diferente! E que o poder público municipal abra logo os olhos, antes que seja tarde demais. O pedágio está aí, nas nossas caras. Só não vê quem não quer enxergar!

 

 

Matheus Borges

Matheus Campos Borges, Servidor Público Estadual, graduado em Jornalismo e Direito com especialização em Direito Civil e Processo Civil.

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