Parece o enredo de um desses filmes distópicos, nos quais uma guerra atômica destruiu todo o tipo de esperança. A realidade brasileira atual consegue, em muitos momentos, evidenciar a decadência humana de uma maneira verdadeiramente estarrecedora.
Em junho, moradores do bairro de São Benedito, em Olinda, cercaram um caminhão de lixo para pegar restos de alimento descartados por um supermercado. Mostrando que o acontecimento não é excepcional, a concessionária responsável pela coleta disse que “os funcionários recebem treinamento para não reagir quando são cercados por moradores”.
Numa madrugada do início de julho, ao menos três pessoas morreram nas ruas de São Paulo. De frio. Em um país tropical. Os corpos foram encontrados em locais como um terminal de ônibus e um colchonete na calçada.
São cenas radicais de violência social. Que pontificam em meio à violência do cotidiano, dos quase 40 milhões de trabalhadores informais, que entregam refeições em motos ou bicicletas debaixo da chuva ou vendem garrafas de água nos sinais sob o sol inclemente. Nas piores condições possíveis e sem nenhum garantia. O país ganhou no curtíssimo intervalo de um ano nada menos que dois milhões de pobres e 1,7 milhão de miseráveis.
Até a rede de solidariedade tem se reduzido. Aqui, em Pedro Leopoldo,. ainda somos uma cidade pequena e, por isso mesmo, solidária. As pessoas se reúnem em torno de feijoadas, chás e almoços para protegerem crianças e idosos. São esforços louváveis e que nunca foram tão necessários. Mesmo que pouco possam fazer para mudar uma realidade que, ao que tudo indica, ainda vai piorar. Quanto sofrimento o país aguenta antes de tomar atitudes concretas contra a pobreza? O Brasil não merece este Brasil.