Bombeira de Pedro Leopoldo é a primeira mulher em missões de busca e salvamento fora de Minas

Bombeira de Pedro Leopoldo é a primeira mulher em missões de busca e salvamento fora de Minas

Carolina Maria Viriato Freitas. Esse é o nome da primeira bombeira a compor uma equipe de busca e salvamento em missões fora do estado de Minas Gerais. Cabo Carolina fez parte da primeira equipe de bombeiros militares especialistas em salvamentos e soterramentos do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) que atuou no desastre ocorrido em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Das cinco operações de apoio que ocorreram fora do contexto estadual – Moçambique, Amazônia, Haiti e Bahia – esta é a primeira vez que uma mulher compõe uma equipe especializada.

Para orgulho nosso, ela é de Pedro Leopoldo, onde nasceu há 37 anos, em Lagoa de Santo Antônio. Aos cinco anos, mudou-se para o centro com os pais professores, Maria Cecília Viriato e Antonio Gonçalves de Freitas, e seus irmãos mais novos,  Camila e Guilherme. Carolina teve uma infância tranquila, perto da família que é toda de PL. Lembra-se que gostava de ir Clube Social e que aprendeu a nadar com o bombeiro Sargento Luis, amigo de sua mãe. Estudou nas escolas Melo Viana, Rui Barbosa, São José e Imaculada Conceição.

Durante o Ensino médio, ainda morava em Pedro Leopoldo, mas já estudava em Belo Horizonte, no Coltec. Fez faculdade em Pedro Leopoldo, enquanto fazia outra graduação da UFMG – formou-se em Patologia Clínica, Matemática e Arquitetura e Urbanismo – e deixou tudo por um motivo simples: “eu preferi ser bombeira”, diz, com simplicidade, a militar que, segundo seus colegas, é bastante tímida e de pouca conversa. E que, em suas horas de folga, gosta de viajar, praticar atividades físicas, ver filmes e de comida vegetariana.

Seu currículo é bastante apreciado no meio militar por ter atuado em grandes operações como Mariana e Brumadinho, além de outras grandes ocorrências como o deslizamento de terra ocorrido em 2013, em Sardoá, no Vale do Rio Doce, e que provocou a morte de cinco pessoas.

Competência, coragem e determinação são traços característicos da militar que está há oito anos no Pelotão de Busca e Salvamento (PBS) do Batalhão de Emergências Ambientais e Resposta a Desastres (Bemad). Ela também é instrutora do Curso de Soterramento e Salvamento em Enchentes e Inundações (CSSEI), desenvolvido pela corporação e incorporado ao Treinamento de Resposta a Desastres Urbanos da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP). Segundo o Corpo de Bombeiros, o jeito reservado de Carolina não interfere na rotina de trabalho e entre os colegas bombeiros o apreço por ela é unânime, bem como o reconhecimento por sua valentia e dedicação em todas as missões nas quais atuou.

As mulheres começaram a entrar na corporação em 1993 e hoje são dez por cento do quadro. No atual contexto da sociedade em que as mulheres têm conquistado espaços de destaque e relevância, reconhecer o trabalho desenvolvido por meio de uma perspectiva feminina, num ambiente tradicionalmente masculino, contribui para projetar o protagonismo das mulheres em lugares ainda pouco explorados.

“Eu tive mãe e avós muito guerreiras. Bombeira eu nunca tinha sonhado em ser, mas a minha infância foi marcada pela presença de mulheres muito fortes, que eu honro, pois me influenciaram demais como exemplos, mostraram o valor da capacidade. Quando eu entrei na corporação, em 2008, para o Curso de Formação de Soldados, é que fui vendo quantas atividades podem ser desempenhadas pelo bombeiro. Ali pude treinar e vi que gostava do trabalho. E lembro que me incentivou o fato de existirem outras mulheres bombeiras lá: combatentes, chefes, instrutoras”, conta Carolina.

Ela não sabe dizer porque tragédias como as de Petrópolis e Brumadinho têm acontecido com mais frequência, mas sabe que vai estar lá, junto aos colegas bombeiros. “Diante da tragédia, com nosso trabalho de equipe, trabalhamos para reduzir os tristes resultados, diminuir as perdas, fazendo o que for possível. O que está sendo feito também são ações de prevenção e gestão do risco de desastre de forma integrada com os órgãos competentes, para evitar ou reduzir os impactos de novas catástrofes”, diz.

O trabalho não é fácil mas, para ela, ajudar a população vale a pena. “São ocorrências complexas, mas treinamos todos os dias pra nos prepararmos tecnicamente e fisicamente pra atendê-las, em equipe. O mais difícil são as dificuldades que as mulheres passam por serem mulheres: mesmo sendo aprovadas no curso de formação, infelizmente têm que continuar provando ao longo da carreira que estão ali para cumprir qualquer função da profissão. Eu gosto demais de ser bombeira, principalmente por poder contribuir e trabalhar ajudando a população, o que é positivo diante das situações difíceis, e muito gratificante”, garante.

Nesta semana em que se comemora o Dia da mulher e, consequentemente, suas lutas e conquistas, Carolina constata que provar competência é um processo contínuo. “Ele vem acontecendo ao longo do tempo e temos ainda muito o que mudar. Cumprir tarefas nas quais antes predominavam os homens é uma maneira de mostrar para as próprias mulheres que dá pra fazer, que elas são capazes”, conclui Carolina.

 

PIONEIRISMO FEMININO

(trecho reproduzido de matéria do site Universitas, do Uol, sobre “Mulheres inspiradoras”)

(foto CBMMG)

Sob um sol forte antes mesmo das 9h de quarta-feira (23/2), a equipe do CBMG (Corpo de Bombeiros de Minas Gerais), em que a cabo Carolina Freitas atua, encontra o corpo de uma mulher no alto do Morro da Oficina, em Petrópolis (RJ). No último dia 16, a região serrana foi atingida por chuvas e deslizamentos que deixaram mais de 200 mortos. O marido da vítima resgatada a reconheceu pela aliança de casamento. Íris, de 20 anos, estava com uma criança na hora do desastre. A menina seguia desaparecida até o fechamento desta reportagem….

A cabo de 37 anos é a única mulher numa equipe de 14 pessoas da corporação mineira convocada ao local para auxiliar no resgate às vítimas. Incentivada pela mãe a entrar para o Corpo de Bombeiros, a moradora de Pedro Leopoldo, na região metropolitana de Belo Horizonte, é especializada em operações de grande complexidade. Ela diz que, no seu batalhão, tem ainda mais uma sargento com a mesma formação e que deve ir à região nos próximos dias….

“Retiramos duas vítimas neste local e demos outros apoios em resgates mais difíceis”, afirma A gente fica na expectativa de achar essas pessoas para dar uma dignidade a elas e às famílias também…. –

O CBMG reserva apenas 10% de vagas para mulheres em seu quadro. Formada em matemática e arquitetura e urbanismo, a cabo conquistou uma delas em 2008 e, de lá para cá, tem percebido um grande interesse feminino pela profissão….

Espero que mais mulheres projetem esse lugar, porque elas também são capazes”, torce a cabo, complementando, em seguida, que não há treinamento diferenciado entre os gêneros. “Não se trata de força, mas de muita técnica.”.

 

 

 

 

Bianca Alves

Criadora e editora do projeto AQUI PL, é formada em Comunicação Social pela UFMG e trabalhou em publicações como os jornais O Tempo, Pampulha, O Globo; revistas Isto é, Fato Relevante, Sebrae, Mercado Comum e site Os Novos Inconfidentes

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