Enquanto eu esfrego a testa com força suficiente para descascar um pinhão, penso no que fazer com a monumental conta de água desse mês. Setecentos míseros reais, bagatela.

E eu me lembro do dia em que vi o vazamento na rua… No momento em que acionei a Copasa, que não veio resolver o tal vazamento, e eu paguei pedreiro pra resolver porque estava um assombro aquela água toda escorrendo rua abaixo. E agora a conta chega, e eu descubro que o vazamento na rua é considerado pela empresa como sendo um problema meu. Setecentos merréis, eu tô lascado.

E de tanto pensar nisso, me ocorre que o aguaceiro que escorreu dava pra fazer um chafariz. Plau! Lembrei do chafariz, a fonte da Praça Chico Xavier!

Eu não tô doido, eu lembro, ele existia, tava lá e era lindo! Quantas cidades ainda tem um chafariz?

A Praça Chico Xavier, popularmente conhecida como praça da prefeitura, ali pelos idos dos anos 90 não era bonita, não. Sendo bem sincero, era uma tristeza. Renasceu algum tempo depois, ganhou um redesenho, barracas, bancas, uns bancos pra lá de desconfortáveis, mas renasceu e aí está. E até certo ponto, tinha um belo chafariz no meio, que um dia “suverteu”. Sumiu.

Tinha peixe ali! Água! Tem mais não. Cabô. Sumiu.

Devem ter havido mil razões técnicas pra acabarem com o chafariz, talvez a dengue, talvez a economia de água, talvez a pescaria dos gaiatos… Motivos não devem ter faltado, mas era bonito ver o chafariz. Nem tô falando de uma pseudopraia como o povo faz na Praça da Estação, a de BH, mas era bonito, e tinha sim aquele charminho gostoso de cidade que ainda tem um pezinho num passado não muito distante.

E hoje, que a gente vive tempos de calor cada vez maior, que falta fazem fontes públicas, não é mesmo? Nem a fonte da Praça da Estação (a nossa, mesmo), que tanto refrescava a gente, ficou.

Eu volto a esfregar a testa, tentando imaginar o que fazer com a fatura pornográfica da água, enquanto penso também que as praças de todos os lugares estão cada dia mais concretadas, mais cimentadas, menos arborizadas, e os chafarizes aos poucos vão sumindo… vão sumindo… Trocamos chafarizes por paralelepípedos, árvores por postes… e belezas por lembranças.