De um lado, Pedro Leopoldo, cidade em que Chico Xavier nasceu em 1910 e viveu até os 49 anos. De outro, Uberaba, cidade para a qual o médium se mudou em 1959 e onde atuou até sua morte, em 2002. Em disputa, estão dois projetos, apresentados quase ao mesmo tempo na Câmara dos Deputados e no Senado. E que, segundo matéria da Folha de São Paulo, criaram um impasse.
Com intervalo de seis dias, tanto o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), quanto o deputado Franco Cartafina (PP-MG), propuseram criar no Brasil a capital nacional da mediunidade, mas cada um escolheu uma cidade. Girão queria Pedro Leopoldo, enquanto Cartafina escolheu Uberaba, sua base eleitoral.
O senador tucano Antonio Anastasia, relator do projeto a pedido do colega Girão, detectou a sobreposição e o conflito entre as duas iniciativas. Conciliador, chamou os parlamentares para uma solução apaziguadora, salomônica, bem aos moldes do famoso médium.
Cartafina cedeu e deixou em discussão só o projeto de Girão, que contempla Pedro Leopoldo, mas quis uma compensação. Deu uma mexidinha no projeto anterior e quis que Uberaba seja reconhecida como a capital nacional da psicografia.
O caso reforçou uma possível rivalidade entre os dois municípios, confirmada por Anastasia. Segundo a Folha, Uberaba sediava a entrega anual da Comenda da Paz Chico Xavier, instituída pelo governo mineiro em 1999, mas um movimento em 2011 para transferir a cerimônia para Pedro Leopoldo inaugurou a pendenga. E desde 2016, por força de lei, os municípios passaram a se alternar como palco da honraria.
O deputado Cartafina diz que não é praticante do espiritismo, mas frequenta centros espíritas para tomar passes e contribui com doações. Já o senador cearense Girão é kardecista entusiasmado. Ele também é autor de um projeto que confere ao município de Jaguaretama (CE) o título de capital nacional do espiritismo e de outro que estabelece 18 de abril como o Dia Nacional do Espiritismo. “Meu objetivo é incentivar uma cultura de paz, estimular o turismo”, afirma Girão.
A reportagem da Folha de São Paulo também diz que tanto em Uberaba quanto em Pedro Leopoldo existem museus “em homenagem àquele que é considerado o maior nome do espiritismo no Brasil”. O que a Folha não sabe é que, apesar de abrigar algumas estruturas como a Casa de Chico Xavier, um espaço na Fazenda Modelo (onde Chico trabalhou) e outro no Centro Espírita Luiz Gonzaga (fundado por ele), a maior obra dedicada ao médium mal saiu do chão e é um exemplo claro de desperdício de recursos públicos.
OBRA INACABADA
O Memorial de Chico Xavier na região do Capão é um esqueleto que já consumiu mais de R$1,5 milhão – alguns calculam mais de R$ 3 milhões. Tudo que tinha lá sumiu – de prego a ferragens e cimento. A obra está parada há anos e chegou a impedir que o município tivesse acesso a recursos da União. Seria a redenção da cidade, como destino dos 4 milhões de espíritas brasileiros (segundo o IBGE), além dos admiradores de Chico Xavier espalhados por todas as religiões.