ESPECIAL MEIO AMBIENTE – A cidade verde que a gente quer

ESPECIAL MEIO AMBIENTE – A cidade verde que a gente quer

O meio ambiente não deve brigar com o desenvolvimento, assim como não briga com a saúde e nem com a qualidade de vida. Pelo contrário, ele é (e deve ser) parceiro. Uma cidade bem cuidada, sem poluição, sem congestionamentos, com saneamento básico e muita área verde, é boa de viver para todos e atrai bons negócios. Quem não quer trabalhar em uma cidade como Curitiba ou Copenhague, conhecidas por preservar o espaço urbano de uma maneira saudável e inclusiva? E o contrário: quem quer viver e produzir em um local com esgoto a céu aberto, ruas congestionadas, áridas e calorentas, espaço ocupado por prédios que escondem a luz do sol?

Meio ambiente é coisa de gente empática, solidária, que se preocupa com o futuro de seus filhos e netos. E hoje é também medida para avaliar a evolução de uma cidade e a maneira que ela escolhe para crescer e criar oportunidades para sua população. Independente dos erros que Pedro Leopoldo cometeu no processo que acabou resultando na perda da Heineken, nossa maneira de pensar (ou não) a sustentabilidade talvez tenha sido o fator que mais concretamente tirou a cervejaria daqui. Porque ser sustentável é algo que depende de planejamento, aquele que protege a cidade e dá segurança ao investidor.

Com ações em bolsa e negócios no mundo inteiro, e uma consistente estratégia de marketing ambiental, como a Heineken explicaria ao mercado e a seus diversos públicos o fato de colocar em risco um sitio arqueológico de importância mundial? Independente da dimensão desse risco, ou se ele existia ou não, o fato é que ele ganhou as manchetes e, a reboque dele, a empresa foi procurar melhores propostas e menos questionamentos sobre seu comprometimento com a preservação do patrimônio arqueológico e ambiental.

No mínimo, aprendemos uma lição. Agora, temos que fazer o curso todo. (Bianca Alves)

 

 

A garantia de que ainda seremos verdes

Matheus Utsch, vereador

Somos uma cidade cinza que há mais de 7 anos não planta uma árvore sequer, só arranca e deixa o toco que, além do tropeço, nos faz lembrar que ali já teve vida um dia e vem acabando, como nossa economia que perdeu a Heineken por um radicalismo exacerbado aliado à causa de tantos interesses políticos locais e econômicos nacionais.

Como vereador, tenho uma luta concreta, legislando pelo meio ambiente através de projetos aprovados, como o de mobilidade e incentivo a bicicletas, do fim dos cabos inutilizados nos postes, que poluem visualmente tanto a cidade, o projeto de arborização com destinação de 134 mil reais para o estudo e plantio de árvores.

Mesmo assim, ainda me sinto um derrotado em ver tudo isso passando e não poder agir, parece um trabalho de formiga feito por muitos e que gera pouco resultado.

Somos ainda agraciados pelos contornos verdes das matas protegidas, principalmente pelos fazendeiros e parques. Mas é preciso entender que somente a coexistência proposta por um desenvolvimento sustentável é que traz a garantia de que ainda seremos verdes. Há ideias, como por exemplo, a transformação em parceria com a UFMG da Fazenda Modelo em Parque Municipal. Caminhemos sem perder a fé nem a razão.

Só cidades bem administradas são sustentáveis

(Foto Márcio Barbosa)

Rogério Tavares, analista ambiental do Comitê de Bacia Hidrográfica Rio das Velhas

Para uma cidade ser sustentável, como gostaríamos que Pedro Leopoldo fosse, esse conceito tem que ser internalizado nos corações e mentes de dirigentes e agentes do desenvolvimento. Nossos gestores têm que querer isso, tanto quanto querem trazer empresas e gerar empregos. E uma coisa, naturalmente, não exclui a outra. As cidades mais desenvolvidas do mundo promovem a convivência pacífica entre desenvolvimento e preservação do meio ambiente. Geralmente são cidades muito bem planejadas e administradas e, não por acaso, são chamadas de cidades sustentáveis.

Na Islândia, a capital Reykjavik  é 100% abastecida por energia limpa – lá ela vem dos vulcões, mas pense nas fartas fontes de energia eólica e solar que temos. Copenhague, na Dinamarca, investiu em um bom sistema de transporte público e um programa de bicicletas urbanas, tirando milhares de veículos das ruas e, com eles, poluição e congestionamentos. São Francisco, entre várias ações, apostou no uso sustentável da água, na redução de resíduos e no incentivo à agricultura orgânica. Singapura tem boa parte de suas terras destinados a parques e reservas naturais.

No Brasil, Curitiba é a metrópole verde da América Latina. Por lá, a maioria da população utiliza o transporte público, o que faz com que o índice de emissão de dióxido de carbono, per capita, seja baixo. Além disso, há muita área verde e a educação ambiental é exemplo para o país. Londrina tem um eficiente programa de coleta seletiva de lixo e Extrema, em Minas Gerais, tem programas continuados e eficientes de preservação de áreas protegidas, conservação das águas e pagamento de serviços ambientais aos produtores rurais. Aliás,  Extrema é uma das cidades mineiras que mais cria empregos.

Cidades como essas oferecem qualidade de vida aos seus moradores e, como tal, atraem empresas modernas, cujas atividades se baseiam em tecnologia e talento, ingredientes ainda mais efetivos quando se tem os ativos ambientais como aliados.

O desejo da sustentabilidade deve ser traduzido no reconhecimento da necessidade de qualidade de vida e do exercício da cidadania que impliquem no alcance de metas pactuadas para além de 4 anos. Fundamental destacar que um dos pilares para esta construção é a educação ambiental permanente e ativa.

Além, é claro, de um corpo técnico efetivo de suporte ao planejamento e projetos e também de fiscalização no caso do nosso município, que está com quadros deficitários e desvalorizados. Na última reforma administrativa que fizeram, Lagoa Santa e Santa Luzia não se esqueceram de oferecer vagas em concurso público para profissionais da área de planejamento urbano, meio ambiente e até de políticas culturais, com a contratação de profissional da arqueologia.

 

Um inquestionável dever diário

Eliane Matilde, professora

É fundamental falar sobre Meio Ambiente no cotidiano; é tão importante quanto se alimentar, já que esta é uma das regras básicas para nossa sobrevivência e, em especial, daqueles que virão depois de nós.

Atualmente, um dos termos mais utilizados nos discursos ambientalistas é a palavra SUSTENTABILIDADE, ação que visa a harmonia entre o planeta e as ações humanas em torno dele; criando, no indivíduo, uma consciência que o leva a se sentir sempre um grande responsável por atitudes saudáveis, voltadas à preservação do Meio Ambiente.

Nesse contexto, agir com cuidado, repensando os hábitos diários, torna-se uma missão sagrada. Como em oração, a pessoa se coloca, espontânea e prazerosamente, praticando ações sustentáveis a partir de seu próprio “eu”, de sua própria casa; preocupada em reduzir quaisquer impactos à Terra. Aliás, esse é um movimento crescente em todo o Planeta.

Sendo assim, todos precisamos nos engajar cada vez mais nessa causa essencial; justamente, para mantermos a saúde do Planeta. Em nossa cidade, temos inclusive alguns grupos de WatsApp, Frente, Associações, Escolas, enfim, há um número especial de pessoas que se preocupam em praticar e divulgar essa proposta socioambiental.

Uma das grandes necessidades diárias diante desse pensamento sustentável, global, indispensável à vida, se concretiza através de nosso trabalho voluntário e intenso de separar os resíduos, erroneamente muitas vezes chamados de lixo, e destiná-los de forma adequada. Nota-se com isso, que a velha tradição de colocar todo o descarte em apenas um recipiente, faz um bom tempo, não é mais aceita pelos protocolos de manuseio de resíduos sólidos e não tem o menor cabimento na contemporaneidade.

Torna-se impossível misturar lixo orgânico com o lixo seco, por exemplo; para pessoas conscientes, esse erro é um crime, um pesadelo. Mas, de maneira organizada e compromissada, o que se deve fazer é separar todo o material reciclável para a coleta seletiva, lembrando de lavar e secar as embalagens descartadas. Dessa forma, cada um pode realizar uma das melhores condutas promotoras da sustentabilidade. Lixo é luxo, já diz uma antiga mensagem…

Em Pedro Leopoldo, apesar de todas as demandas sustentáveis, inclusive tantas outras como a própria Mobilidade Urbana, vê-se um atraso geral em torno dessa enorme problemática que é o lixo. Falta ainda muita campanha educativa em todas as esferas político-sociais do município. Faltam incentivos, investimentos, qualificação, consciência, boa vontade, interesse do Poder Público e da população em geral.

Portanto, as simples atitudes do dia a dia, aquela rotina básica de fazer as pequenas ações, nutridas de consciência para evitar a degradação ambiental, se feitas por todos principalmente, permitem que trilhemos o caminho da sustentabilidade com eficiência. Para isso, deve-se rever e atualizar sempre os antigos e velhos conceitos afins.

Afinal, apenas uma bola de meia, por exemplo, com o enchimento feito de sacolas plásticas descartáveis, é capaz de evitar grandes males à Natureza e proporcionar a alegria de muitas crianças, salvando uma partida de queimada na aula de Educação Física na falta de material esportivo na escola.

Sustentabilidade é um inquestionável dever diário que deve ser praticado sem restrições.

 

 

Proteger o meio ambiente é bom para a saúde

Sérgio Bogado, médico e presidente da Unimed PL

Saúde e meio ambiente são conceitos que andam juntos e estão em constante interação. E não só concretamente, como relação de causa e efeito, como no caso das queimadas que provocam problemas respiratórios, a ausência de saneamento básico que faz proliferar um sem número de doenças, ou ainda o lixo que junta insetos e se torna criadouro para viroses como dengue e chikungunya.

Mais recentemente, o surgimento de novos vírus, principalmente os que têm animais como vetores, está sendo atribuído ao desmatamento, que os desloca de seus habitats naturais para mais perto dos homens. Obrigados a saírem da floresta, os animais levam junto doenças que o organismo humano não está preparado para enfrentar.

Hipócrates, autor do juramento através do qual os médicos se comprometem a nunca causar dano ou mal, há mais de 2 mil anos dizia que a saúde é resultado do equilíbrio entre os elementos naturais e o ser humano.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a biodiversidade e os ecossistemas são pilares centrais para a vida no planeta. Afinal, são fontes de alimentos e ingredientes essenciais de medicamentos, compostos medicinais, combustível, energia, além de espaço para a tranquilidade e o encontro com o sagrado.

E só com equilíbrio ambiental é possível ter água, terra e ar limpos, elementos fundamentais para uma boa saúde. Para vivermos bem, é preciso proteger o meio ambiente, de maneira que os recursos naturais estejam aí por muito tempo, disponíveis para quem virá depois de nós.

Temos que utilizar o que o nosso planeta oferece de maneira parcimoniosa, logo sustentável, preservando a biodiversidade, controlando a exploração dos recursos naturais e reduzindo a presença de elementos tóxicos no ambiente.

Assim como o corpo humano, a Terra é forte e tem grande capacidade de recuperação, mesmo quando duramente explorada. Sabemos que sempre é tempo de cuidar da gente, afastando maus hábitos como fumar, beber e comer em excesso e adquirindo boas práticas como fazer exercícios e amigos.

Assim também sempre será tempo de proteger o planeta e todo esse patrimônio natural que temos a nosso dispor. É nesta convivência harmoniosa, respeitando o mundo, o outro e a nós mesmos, que estamos preservando um espaço que é nosso, mas que nossos filhos merecem receber em boas condições.

 

O equilíbrio entre desenvolvimento econômico e ambiental

Emiliano Braga, empresário

Meio ambiente é parte fundamental de um conceito que vem ganhando o mundo dos negócios, o das práticas ESG, sigla que vem do inglês Environmental (Ambiental, E), Social (Social, S) e Governance (Governança, G). A governança ambiental, social e corporativa avalia até que ponto uma corporação trabalha em favor de objetivos sociais e ambientais  que vão além de maximizar os lucros em nome dos acionistas da corporação. Como qualquer governança ou conduta corporativa, sua importância vem crescendo, inclusive no aspecto prático, como forma de avaliar financeiramente uma empresa a partir do seu modelo de administração.

Ter uma boa avaliação ESG traz para a empresa um olhar melhor do mercado, tanto aquele que consome seus produtos quanto o que compra as suas ações. Mas nesse primeiro momento, é inevitável dizer que a conscientização começa pelo bolso – o que não deixa de ser uma forma de começar. É bom lembrar e deixar claro que praticar ESG não significa deixar de explorar recursos minerais, hídricos e fósseis, pois o mundo depende da exploração desses recursos naturais. A grande tônica aqui é a busca pelo equilíbrio entre o desenvolvimento socioeconômico e a preservação ambiental. Seguindo essa tendência, a B3 (Bolsa de Valores) lançou uma cartilha onde é possível verificar os principais pontos que são avaliados para dizer se uma empresa fará parte do grupo ESG ou não.

E é neste contexto que devemos avaliar Pedro Leopoldo como cidade sustentável. Aquela que vai tratar o desenvolvimento econômico de maneira inovadora, a partir de  uma visão atualizada e alinhada com o meio ambiente. Para começar, Pedro Leopoldo tem uma série de vantagens logísticas, sociais e ambientais. Somos uma cidade próxima de uma capital e de um grande aeroporto, considerado um dos mais promissores modais aéreos do país, e de uma importante malha rodoviária e ferroviária.

Comparada às cidades vizinhas, ainda somos um município com índices baixos de violência, níveis educacionais interessantes, boas escolas, bons índices de saneamento básico, quando comparados aos do restante do pais, e muita, muita área verde.

Tudo isso pode trazer para cá empresas cujo produto final seja tecnologia de ponta e, entre seus principais insumos, estejam a ousadia e o talento. Falta, porém, planejamento para que esses atrativos não só sejam utilizados e aproveitados pela população, quanto divulgados junto a um público que, nos conhecendo, vai querer investir aqui.

Empresas que levam a sério práticas ESG querem parceiros com a mesma mentalidade. Ou seja, temos que nos preparar para receber empreendimentos sustentáveis, fortalecendo a nossa própria sustentabilidade e claro, gerando riqueza e desenvolvimento social em harmonia com o meio ambiente.

 

 

 

 

Bianca Alves

Criadora e editora do projeto AQUI PL, é formada em Comunicação Social pela UFMG e trabalhou em publicações como os jornais O Tempo, Pampulha, O Globo; revistas Isto é, Fato Relevante, Sebrae, Mercado Comum e site Os Novos Inconfidentes

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