Por Márcio Euzébio Barbosa*
Ao contrário do escritor, que precisa de gerar imagens ao narrar fatos, o artista visual busca em suas obras gerar palavras. É o que gostaria com esta tela, que chamei de “O voo de outras garças”, numa alusão ao livro do Jhon Harley, “O voo da garça” – e uma homenagem a Chico Xavier, homem que pregava o amor ao próximo, essência do Cristianismo. Nesta imagem que pede palavras, troco as aves por pipas, tema recorrente em meu trabalho, que tentam extrapolar a margem da tela, como querendo sair para outros céus.
Com ela, quis homenagear também, neste centenário de Pedro Leopoldo, aqueles que voaram da cidade, cabeças um tanto quanto diferenciadas que não acharam aqui um céu para seus voos planejados e sonhados e o procuram em outros lugares do mundo. Não que o céu daqui seja pequeno para voos maiores, de jeito nenhum. Tem muita gente voando lindamente em nossa cidade. Outros voam para fora e voltam repetidas vezes em visitas de arribação; outros, raras vezes ou nunca mais.
Talvez o que eles queriam era voar além do “do sonso essencial, baluarte de alguma coisa”, como escreveu Clarice Lispector, ela mesmo um passarinho que voou da Ucrânia para o nosso país. E é a estes ausentes, que se foram de uma forma ou de outra, que presto meus respeitos pois nos fazem muita falta. Quem sabe um dia eu os alcance em voos maiores? Obrigado Pedro Leopoldo, por ter abraçado a mim e à minha esposa, ter criado minhas filhas e agora meus netos, eu que vim também de outros voos.
*Márcio Euzébio Barbosa é artista plástico e mantém uma ateliê aberto ao público na rua Esporte, 40