Chorar o leite derramado ou exercer a cidadania com participação e planejamento?

Chorar o leite derramado ou exercer a cidadania com participação e planejamento?

Vista de Pedro Leopoldo (reprodução Facebook-grupo Kdê)

O que dizer de 2021 em Pedro Leopoldo? Fomos da euforia, com a possibilidade de um grande investimento na indústria, com o anúncio, no final de 2020, da construção de uma fábrica da cervejaria Heineken no nosso município, à decepção com a sua partida.

De teorias de conspirações ao velho senso comum. Da intolerância ao preconceito, passando pela ignorância, vimos, nas redes sociais, os mais absurdos comentários e explicações para a não construção da fábrica aqui na cidade. Doutores da internet, formados em direito público e administrativo, engenharia e geologia. Especialistas em meio ambiente e até mesmo investigadores particulares. Tivemos de tudo, menos a cobrança de algo fundamental, cuja responsabilidade é de todos nós, moradores de PL. Ninguém cobrou, exigiu e falou que faltou PLANEJAMENTO.

A Heineken veio e foi sem ter vindo, assim como outras empresas e indústrias que aqui se instalaram. Negócios de ocasião sem a efetiva participação do poder público e da comunidade pedro-leopoldense. E não, não estou aqui escrevendo sobre os termos do contrato ou dos entraves que fizeram com que a fábrica desse tchau e benção para nós. Escrevo sobre a nossa ausência, enquanto comunidade, na participação e construção da cidade que queremos e precisamos.

Democracia e cidadania não se resumem em votar ou ser votado nas eleições. É muito mais do que isso. Implica em atuar e participar na construção da nossa comunidade. Participação com responsabilidade, com estudo e capacidade de argumentação, sem as leviandades e pensamentos rasos que, infelizmente permeiam os comentários das nossas redes sociais. Mais do que cobrar dos entes públicos e dos nossos agentes políticos, é preciso participar do PLANEJAMENTO da nossa cidade.

Por exemplo, qual é o tipo de desenvolvimento econômico que almejamos para o município? Como iremos alcançá-lo? Quais as vantagens e desvantagens da região? Tudo isso demanda participação – com responsabilidade – de todos os setores da sociedade civil. Passa pelos empresários e também pelos operários. Pelo setor de comércio e serviços e pelos profissionais liberais. Pelas associações de bairros e, claro, pelos nossos representantes do poder legislativo. O planejamento do município não pode ser gestado apenas no gabinete do poder executivo.

Estamos atrasados nos estudos para descobrir, direcionar e investir nas nossas vocações econômicas. Pedro Leopoldo está próxima de Belo Horizonte e ao lado do Aeroporto Internacional de Confins. Somos a terra de Chico Xavier, um grande nome do espiritismo no Brasil e no mundo, contamos com grutas e sítios arqueológicos e temos várias instituições de ensino e uma Fundação Cultural com faculdade e cursos técnicos, além de uma agricultura familiar forte e crescente. Por fim, contamos com uma promissora rede hoteleira.

Ou seja, temos uma base forte para o desenvolvimento de uma nova estrutura econômica e o melhor: estrutura essa bem diversificada. Com trabalho, pesquisas, parcerias, investimentos e PLANEJAMENTO, temos condições de nos transformarmos em um pequeno vale do Conhecimento, da cultura, do turismo, da ciência e da tecnologia. Precisamos de participação com responsabilidade para chegarmos ao PLANEJAMENTO necessário.

Em primeiro lugar, fazer um levantamento pormenorizado da nossa economia. Como anda e qual é o grau de qualificação e desenvolvimento do comércio local, bem como de sua rede de prestação de serviços. O segundo passo é conhecer e mapear as nossas potencialidades. Nosso meio ambiente, com as grutas, cachoeiras e sítios arqueológicos, bem como os nossos pequenos e médios produtores rurais familiares. Fazer uma parceria com a Fundação Pedro Leopoldo, o Aeroporto de Confins e as grandes empresas ainda existentes no município (e fora dele).

A cidade teria então uma nova estrutura de crescimento sustentável, com os seguintes vértices: Turismo ecológico, aproveitando as potencialidades ambientais; turismo religioso, com a história e os caminhos de Chico Xavier pelo município; desenvolvimento de estruturas para pesquisas paleontológicas; programas de atração de empresas de conhecimento em ciência e tecnologia; investimentos na criação e capacitação de cooperativas nos mais diversos setores, inclusive e principalmente na agricultura familiar.

Tudo isso seria feito usando o conhecimento técnico e intelectual da Fundação Pedro Leopoldo e do Aeroporto Tancredo Neves, com o apoio do empresariado local e de outras regiões e claro, com o papel predominante e principal da prefeitura, câmara municipal e comunidade. Isso é PLANEJAMENTO. Com ele, jamais perderemos novamente empresas e indústrias como a Heineken, porque seríamos nós, população, os atores principais de suas vindas para a cidade.

Em 2022, temos dois caminhos a seguir: chorar o leite derramado ou pegar as rédeas do nosso futuro em nossas mãos. Sermos coadjuvantes ou atores principais, com cidadania, responsabilidade e PLANEJAMENTO. Espero que, enfim, façamos a segunda opção. Que venha 2022.

 

 

 

Matheus Borges

Matheus Campos Borges, Servidor Público Estadual, graduado em Jornalismo e Direito com especialização em Direito Civil e Processo Civil.

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