Como valorizar e colaborar com o catador de recicláveis em PL (e no mundo, é claro…)

Como valorizar e colaborar com o catador de recicláveis em PL (e no mundo, é claro…)

Lucilene e Cirlane: guerreiras na Ascapel

“Tudo o que eu conquistei até hoje foi através da Ascapel”, dizem, quase em uníssono, Luciene Pereira de Almeida e Cirlane da Conceição Reis. Ambas mulheres, mães, trabalhadoras numa atividade que, além de sustentá-las e às suas famílias, é também muito importante para o planeta: a coleta de materiais recicláveis. Cirlane é catadora desde os tempos do Lixão da Tapera.  Mãe de três filhos e avó de cinco netos, é tesoureira da Ascapel, a Associação de Catadores de Pedro Leopoldo, uma entidade privada e sem fins lucrativos, que presta há quinze anos um serviço de utilidade pública e apartidária, conforme rege o seu Estatuto e Ações.

Cirlane é parte de um contingente de trabalhadores que movem um planeta inteiro em uma rotina indispensável pela sustentabilidade. Segundo o Banco Mundial, é um trabalho realizado por mais de 15 milhões de pessoas em todo o mundo ou seja, cerca de 1% da humanidade coleta, tria  e recicla os resíduos gerados pelas cidades.

Esta é a rotina de Luciene Pereira de Almeida,  mãe de cinco filhos e vice- presidente da Ascapel, onde atua desde a fundação da entidade, em 2005. Antes disso, trabalhou um ano e 3 meses no lixão. Para ela, a Ascapel é um “sonho”, “um sexto filho”. Segundo ela, é um lugar maravilhoso pra trabalhar e que lhe trouxe grandes conquistas, entre elas a casa própria. “Se você tem objetivos, você precisa segui-los. Se tem escadas pra você subir, você sobe e se tem escadas pra descer, você desce. Chegar à liderança da associação não foi fácil, mas aprendi muita coisa”. sustenta Luciene.

Hoje a Ascapel conta com a participação de 9 mulheres e 5 homens, que se respeitam e respeitam o que fazem. O maior desafio para eles, porém, continua sendo a aceitação das pessoas. Para os recicladores, o trabalho duro de carregar peso, separar manualmente os resíduos, pegar em restos de comida azeda ou materiais diversos misturados e não higienizados ou descartados incorretamente como agulhas, máscaras usadas, produtos tóxicos, animais mortos e vidros quebrados, é mais fácil de ser enfrentado do que o preconceito social. Vencê-lo faz parte do projeto de uma cidade sustentável, assim como valorizar os catadores e promover melhorias em sua rotina de trabalho.

Sim, eles precisam de muitas coisas, como parcerias com as empresas, melhor comunicação com gestores e com a população, uma esteira automática e melhores condições de trabalho. Um exemplo de equipamento que pode dificultar a vida deles são essas lixeiras verdes, espalhadas pela cidade, nas quais o lixo é “atochado” e muitas vezes misturado, recicláveis com não-recicláveis. Segundo a ambientalista Aline Dias, tais lixeiras deseducam e estimulam a população a jogar qualquer coisa, em qualquer dia e horário, na porta do vizinho. Para ela algumas atitudes são fundamentais para a população colaborar com a Ascapel.  Confira:

– Separar em casa três tipos de resíduos: orgânicos, inorgânicos recicláveis e inorgânicos não recicláveis;

– Ficou na dúvida, pesquise, pergunte os especialistas;

– Sempre limpe e seque os recicláveis antes de destiná-los à reciclagem;

– Ficar atento aos horários de coleta da sua rua e seu bairro. Coloque os recicláveis na rua no momento ou pouco antes do caminhão chegar. Isso evita o extravio ou mistura indesejada com lixo que outras pessoas possam colocar sobre o material que você cuidou até então. Se o caminhão já tiver passado, guarde novamente seus recicláveis.

– Utilize o muro inteligente caso não queira aguardar a coleta porta a porta. Nos muros não existe ainda a coleta de vidros (garrafas, vidros de conserva, vidros circulares), material que é normalmente recolhido pela coleta porta a porta.

– Não encaminhar pra coleta seletiva materiais perigosos: máscaras usadas, seringas e agulhas, venenos, pilhas, baterias, lâmpadas, e outros. Para proteger os trabalhadores, é fundamental ainda separar vidros e louças quebradas em caixas de papelão ou garrafas pet, ou embrulhá-los em jornal. Louça e vidro plano (tipo de box e janela) não são recicláveis.

– Separe seu óleo de cozinha usado. Uma colher de óleo no ralo contamina muitos litros de água e gera enormes prejuízos às empresas de fornecimento de água. Existem pessoas que compram óleo usado, ou você pode doar para aquela amiga que sabe fazer sabão caseiro – aprenda com ela ou na internet uma receita.

COMO SEPARAR CORRETAMENTE

A palavra-chave é empatia, ou seja, se colocar no lugar do catador que manipula os seus resíduos. E tentar facilitar o máximo possível a vida destes profissionais, adotando hábitos de consumo e descarte mais sustentáveis. Lembre-se dos 5Rs: Reduzir, Repensar, Recusar, Reutilizar e Reciclar. O mais importante é não misturar resíduos orgânicos com o material reciclável que o catador vai encaminhar para a reciclagem e, assim, fazer a economia girar.

Orgânicos são restos de alimentos vegetais e animais. Faça compostagem ou vermicompostagem. Grande parte dos seus resíduos estão neste grupo. E lembre-se, a melhor solução é não desperdiçar alimentos. Na internet existem vários modelos bacanas de composteiras, para pequenos ambientes ou espaços maiores.

Inorgânicos não recicláveis: adesivos, etiquetas, fita crepe, papel carbono, fotografias, papel toalha, papel higiênico, papéis e guardanapos engordurados, papéis metalizados, parafinados ou plastificados. Clipes, grampos, esponjas de aço, latas de tintas, latas de combustível e pilhas. Cabos de panela, tomadas, isopor, adesivos, espuma, teclados de computador, acrílicos. Espelhos, cristal, ampolas de medicamentos, cerâmicas e louças, lâmpadas, vidros temperados (vidros planos);

Inorgânicos Recicláveis: aparas de papel, jornais, revistas, caixas, papelão, papel de fax, formulários de computador, folhas de caderno, cartolinas, cartões, rascunhos escritos, envelopes, fotocópias, folhetos, impressos em geral; tampas, potes de alimentos, frascos, utilidades domésticas, embalagens de refrigerante, garrafas de água mineral, recipientes para produtos de higiene e limpeza, PVC, tubos e conexões, sacos plásticos em geral, peças de brinquedos, engradados de bebidas, baldes; latas de alumínio, latas de aço como as de óleo, sardinha, molho de tomate, tampas, ferragens, canos, esquadrias e molduras de quadros. Vidros (circulares) só os de potes, frascos, garrafas de bebidas, copos e embalagens.

CONFIRA O DIA EM QUE OS PROFISSIONAIS DA COLETA SELETIVA PASSAM NA SUA RUA

 

 

 

Bianca Alves

Criadora e editora do projeto AQUI PL, é formada em Comunicação Social pela UFMG e trabalhou em publicações como os jornais O Tempo, Pampulha, O Globo; revistas Isto é, Fato Relevante, Sebrae, Mercado Comum e site Os Novos Inconfidentes

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