Diário de um infartado – capítulo 2

Diário de um infartado – capítulo 2

Diario de um infartado 2 ilustraçãoAs pessoas sofrem (e morrem) do coração desde sempre. Já o fato das doenças cardiovasculares serem a principal causa de morte em nossos dias é outro papo e dá margem a muita especulação. Pensemos bem: já foi o tempo em que qualquer dieta usava gordura animal, a indefectível banha de porco onipresente nas refeições familiares do passado. Hoje, qualquer família usa óleo vegetal, seja de soja, milho, girassol ou aquele que todo mundo achava que era uma planta e é uma sigla, o de canola.

Exercício todo mundo faz, fato facilmente confirmado pela monótona paisagem que se adivinha por detrás das vidraças das academias, dos bandos de ciclistas em suas bikes de cinco mil reais andando pelas avenidas, dos times de peladeiros empurrando barrigas de cerveja em gramados artificiais. Frutas como maçãs, antigamente acessíveis apenas a quem estava doente, hoje são mais comuns do que balas e brócolis, meu Deus, essa verdura existia na infância de quem tem hoje cinqüenta anos? Tenho certeza que não e hoje, no entanto, ninguém abre mão de um brócolis com azeite e alho, combinação aliás bastante benéfica para o coração, além de boa prá danar.

O que foi então que derrubou os corações atuais? Podemos apostar no estresse, este sim um mal dos nossos dias. Para as mulheres, vítimas crescentes dos males cardíacos, estresse é mato: marido, filhos, pais, trabalho, casa, ficar bonita, ser atualizada, estar no trabalho e em casa com o filho doente, cuidar do marido, do filho, do pai, da mãe, dos irmãos quando adoecem, cozinhar, lavar, passar, varrer, tuitar, baixar aplicativos, receber, pagar, não receber, dever. É claro que não são todas as mulheres que vivem esse redemoinho enlouquecedor de responsabilidades. Tenho uma amiga que não tem a menor ideia do preço dos alimentos. Exclusivamente dona de casa, ela pega o cartão alimentação que o marido recebe no trabalho e, com ele, adentra o supermercado, põe tudo que precisa no carrinho e paga o que levou, sem saber sequer o valor total da compra, muito menos o de cada item.

Eu sei quanto custa o quilo de carne, de limão, de mamão, a cada semana. Sei que a cebola chegou a nove reais o quilo há alguns meses e hoje custa pouco mais que um real. Faço compras conferindo emails no telefone, entro no carro atendendo o celular, entrevisto, escrevo, edito minhas matérias, vendo anúncios, negocio preços com fornecedores, abro e confiro a conta no banco, entro, saio e entro de novo no vermelho todos os meses. Aliás, desde que a recessão deu as caras, há cinco anos, já não sei mais o que é ficar no verde. Nem mesmo aquele que colore os arredores de uma cachoeira, sonho de consumo de quem não sabe como é que 2019 passou tão depressa. E já está acabando.

Bianca Alves

Criadora e editora do projeto AQUI PL, é formada em Comunicação Social pela UFMG e trabalhou em publicações como os jornais O Tempo, Pampulha, O Globo; revistas Isto é, Fato Relevante, Sebrae, Mercado Comum e site Os Novos Inconfidentes

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