É uma vergonha que PL não tenha mais coleta seletiva

É uma vergonha que PL não tenha mais coleta seletiva

Galpão de separação (foto PMPL)

Há alguns meses, o serviço de coleta seletiva “porta a porta” parou em Pedro Leopoldo por falta de catadores. A atividade rende pouco e muitos deles procuraram empregos de salário mínimo oferecidos por empresas da cidade. A Prefeitura anunciou a volta do serviço que, no entanto,  durou pouco e parou de novo, o que é uma vergonha para todos nós, enquanto sociedade que se diz civilizada.

Separar o lixo reciclável é resultado de um longo aprendizado. Não que qualquer prefeitura desses últimos anos tivesse feito algum tipo de campanha educativa, ou sequer informasse corretamente os dias e locais de coleta. Não, a conscientização nunca foi levada a sério pelo poder público em nossa cidade, mesmo por aqueles que criaram o serviço. A verdade é que os próprios pedro-leopoldenses, por iniciativa própria, se alinharam às melhores práticas de proteção ao meio ambiente para separar seu lixo de maneira correta.

O resultado é espetacular, já que reduz a quantidade de lixo a ser levada para o aterro de Sabará, como o qual a prefeitura de Pedro Leopoldo tem contrato. Isso significa menos lixo enterrado, menos caminhões nas estradas e menor custo para a municipalidade, já que a destinação dos resíduos é paga por quantidade. Outro benefício importante se dá na autoestima da população, que se sente parte do esforço por uma cidade e um planeta melhor. Enfim, é bom pra todo mundo.

A coleta só não tem sido boa para os grandes heróis desta história, os catadores de recicláveis, que têm que recolher, separar, vender e dar destinação ao refugo, trabalho manual demorado e duro para ser realizado por pessoas. Resultado: eles vêm abandonado a atividade e a cidade volta a misturar o resíduo reciclável com o lixo comum que vai para o Aterro.

A coleta seletiva reaproveita e poupa diversos recursos naturais do planeta. São inúmeros barris de petróleo e  quilos de gás carbônico que deixam de poluir o meio ambiente, além de árvores que deixam de ser derrubadas graças ao trabalho dessas pessoas. O trabalho de quem cata é conceito ESG na prática, com o melhor impacto social e ambiental, que se reflete na governança de boas administrações.

O bom é que a solução existe e só depende da Prefeitura se propor a realizar uma política séria de destinação de resíduos. Ninguém consegue sobreviver somente da venda de materiais recicláveis. Não é justo a sociedade jogar a conta nas costas dos catadores de materiais recicláveis. Eles precisam receber remuneração justa pelos serviços realizados e pelo material comercializado, além do pagamento pelo encaminhamento final do material que eles não conseguem vender. O trabalho deles é inclusive autofinanciado, porque o resíduo que é reciclado não precisa ser pago ao Aterro.

“Se a sociedade paga para enterrar lixo (mistura que não foi separada), por que não paga para salvar matéria prima que iria para o aterro indevidamente?”, pergunta a Ascapel, associação que reúne os catadores pedro-leopoldenses. E ela mesma responde: quando houver pagamento justo para a realização deste trabalho (coleta, triagem, enfardamento e encaminhamento), mais pessoas vão querer atuar nesta profissão, e assim, conforme a lei nacional de resíduos sólidos, os resíduos estarão cumprindo sua função social e econômica.

Já que a Prefeitura não se dispõe a pagar a estes trabalhadores do meio-ambiente, a Ascapel está sugerindo que a população leve os recicláveis para os muros inteligentes. Só não sabemos se haverá continuidade deste importantíssimo serviço prestado pela associação, já que a Prefeitura não se dispõe a pagar a estes trabalhadores do meio-ambiente, e a conta deles não fecha. Ou seja, uma política pública obrigatória, como é a gestão de resíduos, está literalmente nas mãos do cidadão. Um absurdo e uma vergonha, como diria um antigo comentarista de TV.

E mais: neste contexto, a atual administração, como muitas das anteriores, investe na mediocridade. Como declarou um engenheiro de sistemas pedro-leopoldense, uma gestão responsável de resíduos – coisa barata e que não tem o menor segredo – seria motivo para a cidade pedir gol no Fantástico e traria muito orgulho para sua população. Afinal, uma cidade moderna, inovadora e comprometida com o meio-ambiente tem coleta seletiva e  reciclagem como prioridade. Só que aqui não.

 

 

 

Bianca Alves

Criadora e editora do projeto AQUI PL, é formada em Comunicação Social pela UFMG e trabalhou em publicações como os jornais O Tempo, Pampulha, O Globo; revistas Isto é, Fato Relevante, Sebrae, Mercado Comum e site Os Novos Inconfidentes

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