Estamos ficando cada vez mais burros

Estamos ficando cada vez mais burros

Durante algum tempo acreditei que a burrice natural era mais ameaçadora que a inteligência artificial. Até que me defrontei com um dado concreto: esta geração que acaba de vir ao mundo, a de nativos digitais, é a primeira a ter QI menor que o de seus pais. Movida a Danoninho, ficou mais alta, mais forte e, infelizmente, menos inteligente.

É, estamos ficando cada vez mais burros. E não podia ser de outra maneira, com tanta tecnologia disponível atrofiando o nosso cérebro, que naturalmente se ressente da falta de utilização.

Antigamente, quando íamos fazer um trabalho de escola, o primeiro passo era pesquisar. O simples ato de procurar um verbete na enciclopédia ou um livro nas estantes da biblioteca, posteriormente escrevendo a informação encontrada nos nossos trabalhos, era uma intensa malhação cerebral. Com as vantagens adicionais de garantir a credibilidade das informações e honrar a autoria das ideias.

Quando chegou o Google, foi inegavelmente uma evolução. Afinal, enciclopédias Barsa e Britânica eram caras e disponíveis apenas para famílias endinheiradas. As bibliotecas públicas, por sua vez, ainda hoje são poucas, distantes para muitos e, mesmo de graça, são muitas vezes inacessíveis, já que, por vários motivos, frequentá-las nunca foi para todo mundo.

De repente, com o novo site de busca, todo o manancial de pesquisa existente no mundo estava a um toque no teclado, primeiro no computador, depois nos smartphones. Nosso cérebro, preguiçoso como ele só, logo se acostumou com isso.

Hoje, ninguém sabe o número do telefone de ninguém, inclusive o próprio, já que vão todos para a agenda digital. Se o GPS cair, milhares de motoristas de uber vão ficar parados nas ruas de Belo Horizonte, ou de qualquer outra cidade, sem saber para onde ir.

As redes sociais, que se anunciaram como ferramentas de relacionamento, até cumpriram a promessa em suas primeiras versões. O Orkut e mesmo o Facebook proporcionaram muito debate e troca de ideias. Mas aí o cérebro, cada vez mais atrofiado, não aguentou e relaxou nos passos seguntes: o instagram só tem foto, vídeo e pouca interação; o tik tok se restringe a idiotices ou, quando muito, ostentação intelectual para ser incensada, sem questionamento.

As previsões são as piores possíveis com o advento da inteligência artificial, em que o “desprovido de QI” simplesmente faz uma pergunta e o chat GPT manda o serviço pronto na mesma hora, direto ao cliente, sem passar pelo cérebro do “pesquisador”. E lembrem-se: mente vazia é a oficina do diabo.

Como diz o amigo Sérgio Stockler, como eu um boomer da geração DNA (Data de nascimento antiga), “o hábito de realizar trabalhos sem ter trabalho pode estar criando uma geração de preguiçosos ignorantes plenamente convencidos de que não precisam aprender muito porque contam com a IA”.

Lembram-se do conceito de depositário do conhecimento aplicado aos idosos pelas culturas orientais e, infelizmente, ainda não absorvido pelo lado de cá? A-ca-bou.  Agora, quem guarda a sabedoria é uma máquina. Pior, um programa, criado por um gênio de garagem que se tornou automaticamente milionário. Os boomers, geração X, Y e, não se enganem, os Z, logo se juntarão a esta turma que, a falta de melhor destino quando envelhecerem, podem ser jogados no poço de piche, como o Dino queria fazer com a vovó Dinossauro.

Poder e conhecimento estarão cada vez mais concentrados nas mãos de alguns, até que eles serão tão poucos que nada produzirão. Como todos sabemos, bom conhecimento se produz em equipe ou pelo esforço de vários. Os prêmios Nobel para diferentes equipes estão aí para comprovar isso.  Neste contexto, vai ser moleza para o computador Hall 9000 e a Matrix mandarem no mundo

Com uma geração cada vez mais burra que a anterior, em algum momento, que não está tão longe assim, voltaremos à Idade da Pedra. E nada será tão premonitório quanto aquela imagem no final da versão original de “O Planeta dos Macacos” – de 1968, imaginem – quando o Charlton Heston encontra a Estátua da Liberdade atolada na praia.

Bianca Alves

Criadora e editora do projeto AQUI PL, é formada em Comunicação Social pela UFMG e trabalhou em publicações como os jornais O Tempo, Pampulha, O Globo; revistas Isto é, Fato Relevante, Sebrae, Mercado Comum e site Os Novos Inconfidentes

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