Artigo de Carolina Malaquias*
Se você é de Pedro Leopoldo, peço que leia com atenção…
A notícia da semana que mais comoveu a população mineira no que diz respeito ao cenário cultural/político foi a “desapropriação” da sala Minas Gerais, sede da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.
Você sabia que, já há doze anos, está acontecendo um processo de destombamento da nossa sede, que abriga a banda há mais de 50 anos e agora é casa da orquestra que você tanto ama e aplaude?
Destombamento para nos colocar em outro “local melhor” – julgam que merecemos um local melhor porque o projeto está crescendo sim, graças a Deus, mas ninguém NUNCA parou para perguntar o que as 200 famílias que frequentam lá semanalmente entre banda, escola de música e orquestra querem – para depois ser mais um dos imóveis históricos DEMOLIDOS na nossa cidade para PASSAR UMA RUA. E isto está cada vez mais próximo de acontecer.
Mais desmanche histórico/cultural e social acontecendo debaixo do nosso nariz e na calada da noite. Assim como foi com vários casarões históricos, a Fábrica de Tecidos e tantos outros registros importantes que estamos perdendo. Eu poderia ser inconsequente e pensar: “azar, a sede está velha e pequena, queremos sim um local maior, confortável, com ar condicionado, banheiros, bebedouros e etc.” Realmente precisamos de melhorias, certíssimo.
Mas a Carol maestrina, pertencente à Corporação Musical Cachoeira Grande há 25 anos, musicóloga e pesquisadora da História de Pedro Leopoldo há 12 anos, com vários trabalhos publicados sobre o tema entre artigos, dissertação e tese, não pode ver tanta irresponsabilidade com a história de Pedro Leopoldo calada, porque a inércia é perigosa e, depois que o pior acontecer, não adianta chorar. Não é a Carol da pessoa científica (citei porque não estou baseada em achismos), mas aquela que ama a nossa cidade e essa casa aí.
Sei que, entre as milhares de pessoas que me seguem nas redes sociais, há muitas com bom senso e que valorizam a cultura, amam nossa cidade, a orquestra, a banda… Por isso trago esse desabafo pessoal aqui.
E já que NINGUÉM nos pergunta o que realmente queremos para melhorar as condições de trabalho nesse projeto que está cada vez maior e que eu sei que vocês valorizam, eu respondo:
– MANTER O TOMBAMENTO DE UM IMÓVEL QUE É NOSSO, enquanto estivermos funcionando;
– Conserto de pequenos problemas internos como vidros, maçanetas;
– Ampliação do nosso salão de ensaio (uma vez que apenas a fachada deve ser mantida em função do tombamento, é possível fazer uma ampliação para a parte de trás que também tem um cômodo que pertence à banda) ;
– Ventiladores, ar condicionado;
– Espaço para dos instrumentos antigos, uniformes, partituras manuscritas que são tão antigas quanto a própria fábrica (1895) ;
– Principalmente: RESPONSABILIDADE E RESPEITO com a história que foi construída aqui dentro. Respeito com o que nós, detentores daquele espaço, queremos.
Sonhar não custa, né?
Mas fica aqui a minha indignação com um bando de irresponsáveis que pensam que caixão tem gaveta, em acumular dinheiro e que vão deixar mais um legado de destruição do patrimônio histórico/cultural da nossa cidade.
E você, inerte ou apoiador, está assinando embaixo.
Pense bem se esse é o legado social que você quer deixar para as próximas gerações, em troca da duplicação de UMA RUA e não a melhoria de um espaço que vem há anos sustentando a cultura da nossa cidade – e que você hoje assiste, inscreve seus filhos gratuitamente e gostaria de fazer o mesmo por seus netos.
Sei que pode acontecer porque não sou rica ou forte o suficiente para lutar com quem apoia isso, não tenho a máquina na mão.
Mas se acontecer, eu vou olhar pra trás e ver que não fiquei calada (como fico tantas vezes) diante dessa irresponsabilidade e desse desrespeito.
*Carol Malaquias é maestrina da Orquestra Sinfônica Cachoeira Grande