O jornalista Álvaro Fraga está isolado em casa, como boa parte de sua geração, que já passou dos 60. Trabalha on line e pouquíssimas vezes vai à rua. Dia desses, ao atravessar a rua de sua casa para ir à farmácia, usando máscara e com um frasco de álcool gel no bolso da bermuda, ouviu um motorista gritar que ele deveria voltar pra casa, porque ele, o motorista, estava sem trabalhar por causa de gente como Álvaro.
O episódio mostra que, não bastasse a Covid, vivemos uma pandemia de desinformação e juízos equivocados, o que não surpreende em um país jovem – cerca de 43% têm menos de 30 anos – e pouco letrado – o brasileiro, em média, fica apenas nove anos na escola. O raciocínio embaralhado do jovem motorista nada mais faz do que desvelar o imenso preconceito contra idosos existente no país.
O que não é uma exclusividade nossa – uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde revelou que 60% das pessoas em 57 países tinham opiniões negativas sobre a velhice. Pessoas mais velhas são vistas como menos competentes e menos capazes e consideradas um fardo para a sociedade e as famílias; em vez de valorizadas por sua sabedoria e experiência, como acontece em países como o Japão e a China, que reverenciam seus idosos.
Ao definir pessoas com mais de 60 anos como grupo de risco, o coronavírus reforça essa carga de preconceito. O isolamento vertical desnuda ironicamente uma dramática realidade, ao banir da vida social aqueles que não têm idade sequer para se aposentar pela previdência – quanto mais para deixar de produzir.
Sim, a covid-19 mata mais os velhos, aliás, todas as doenças fazem isso. Ninguém fica mais saudável à medida em que envelhece. Com exceção é claro, de Brad Pitt na pele de Benjamin Button que, quanto mais vivia, mais jovem ficava, até voltar às fraldas.
Mas todo mundo ganha se valorizar a velhice. O preconceituoso de hoje será vítima de seu próprio estereótipo quando for velho. Afinal, só chega à velhice quem não morreu jovem.