PELAU: O JOVEM DE PL QUE FEZ HISTÓRIA NO CRUZEIRO

PELAU: O JOVEM DE PL QUE FEZ HISTÓRIA NO CRUZEIRO

Pelau, à esquerda, deixa o goleiro a ver navios

Por Márcio Rogério de Souza*

Sou filho de Milton Pires de Souza (PELAU), o admirado atacante do Cruzeiro que fez história no cenário do futebol mineiro, na segunda metade da década de 50.

Neste ano que se comemora o centenário de Pedro Leopoldo, nada mais justo que as diversas pessoas, que nos diversos campos de atuação, contribuíram na formação de tão expressiva história da cidade, sejam lembradas, tanto pela homenagem a elas devidas, quanto para o conhecimento das novas gerações.

Pensando assim, resolvi escrever um pouco do que ouvi e li sobre meu pai, como uma homenagem, no dia do aniversário do seu nascimento (28/02).

Pelau, como era conhecido no meio do futebol, e que depois passou a ser tratado no cotidiano por este apelido, é considerado um dos maiores artilheiros da história do Cruzeiro. Ocupa a 14ª posição no ranking oficial do Cruzeiro Esporte Clube, sendo registrados 98 gols de sua autoria entre os anos de 1955 a 1959, em 155 jogos. Neste período, o Cruzeiro sagrou-se campeão mineiro nos anos de 1956 e 1959.

Natural de Pedro Leopoldo, Minas Gerais, nasceu em 1936, filho de José Pires Xavier Sobrinho e de Santa Teresa de Souza. Ambos vieram para Pedro Leopoldo trabalhar na Fábrica de Tecidos Cachoeira Grande e constituíram uma família composta de sete filhos e duas filhas.

Na primeira metade da década de 50, iniciou sua carreira no futebol, jogando no time Industrial Esporte Clube de Pedro Leopoldo (IEC PL), “no qual com seus três irmãos, Zé Pires, Calango e Mandengá, formavam um ataque dos mais respeitados” destacou Eduardo de Castilho Pereira. Nesta época, Pelau, ainda muito jovem, na casa dos 17 anos, já se destacava pela sua agilidade e habilidade com o futebol, acrescentou Castilho.

Conta-se que, em determinada ocasião, o time do Cruzeiro veio jogar em Pedro Leopoldo no Campo do Industrial. Foram dois jogos envolvendo os times dos 1º e 2º quadros das duas agremiações.

Como disse Castilho: “ O menino Pelau deu um verdadeiro show de bola. ”

Ele foi escalado para o time do 2º quadro e jogou a 1ª partida entre os times do 2º quadro das duas agremiações. O Industrial Esporte Clube venceu por 3 X 0, sendo os 3 gols feitos pelo Pelau.

O Técnico do IEC, muito sabiamente, escalou novamente o Pelau para o time reserva, no 2º jogo, que seria entre as equipes do 1º quadro das duas agremiações. No final do primeiro tempo do jogo, o IEC perdia de 1 X 0 para a equipe do Cruzeiro Esporte Clube. Então, na volta do jogo, isto é, no segundo tempo, o técnico do IEC colocou o “menino Pelau” para jogar e ele fez dois belos gols. Um deles narrados com entusiasmo por um dos seus fãs da época, o advogado Alberto Braga Filho: “aos cinco minutos do jogo, Pelau, que era centroavante do IEC, dominou a bola no círculo central do meio de campo e driblou quase todos os adversários, inclusive, o goleiro. Foi um sonho, um gol inesquecível. ”

Pelau ainda fez o segundo gol da partida, dando a vitória ao IEC por 2 X 1 sobre o Cruzeiro Esporte Clube. Logo que terminou a partida, conforme comentários dos conterrâneos daquela época, os representantes e responsáveis pela equipe do Cruzeiro Esporte Clube articularam junto ao Felício Brandi, que naquela época ainda não era o presidente do Cruzeiro, mas já era uma figura muito influente, visionário e se dedicava a captar e treinar novos atletas. E assim, Pelau foi convidado para treinar na equipe do Cruzeiro.

No Cruzeiro, destacou-se no cenário do futebol nacional como um dos melhores artilheiros da época, como afirmou Osmar Costa em uma entrevista concedida ao meu saudoso irmão Marco Antônio de Souza (Tonei): “com uma arrancada fulminante, chutes fortes em ambos os pés, Pelau foi um dos melhores centroavantes daquela época.”

Eduardo de Castilho Pereira, também em entrevista concedida ao Tonei, descreveu: “Pelau encantou toda a torcida mineira com seus dribles fantásticos, grande velocidade, habilidade e uma grande visão de gol.”

Depois deste tempo no Cruzeiro Esporte Clube, Pelau continuou sua carreira profissional no time da sua terra natal, o Pedro Leopoldo Futebol Clube (PLFC). O PLFC foi elevado à categoria de profissionais no ano de 1958 pela Federação Mineira de Futebol, passando a disputar o Campeonato Mineiro de Futebol a partir de 1959.

Em 1960, o clube alcançou o 8º lugar entre 16 participantes, com 11 vitórias, 6 empates e 13 derrotas, marcando 45 gols e sofrendo 56. Pelau, com 11 gols e Borges, com 10, foram os artilheiros da equipe.

Time do PLFC no início dos anos 60. Pelau é o primeiro agachado, à esquerda.

Pelau se casou em 1962 com Maria da Conceição Ferreira de Souza (conhecida como dona Mara), e constituiu uma família de nove filhos.

Após sua carreira profissional no futebol, trabalhou vários anos como ronda na antiga fábrica de Cimentos Cauê e posteriormente foi o proprietário do famoso “Bar do Pelau”, que atraía diversas pessoas para comerem o delicioso peixe frito, tomar uma cerveja e bater um agradável papo com o admirado e querido Pelau.

Milton Pires de Souza (Pelau), morreu em 2001, aos 64 anos de idade e hoje sua esposa “Dona Mara de Pelau”, com 80 anos de idade é a matriarca de uma família de oito filhos, 18 netos e dois bisnetos.

Agradeço ao meu pai pelo guerreiro pai de família que foi, por nos ter dado exemplo de honestidade, simplicidade, por ter sempre incentivado e apoiado meus estudos e sustentando, com dificuldades, mas com grande garra, os custos dos meus estudos, até a conclusão do curso técnico no CEFET – MG.

*Márcio Rogério de Souza é engenheiro civil e diretor da Associação cultural do Boi da Manta de Pedro Leopoldo

 

Bianca Alves

Criadora e editora do projeto AQUI PL, é formada em Comunicação Social pela UFMG e trabalhou em publicações como os jornais O Tempo, Pampulha, O Globo; revistas Isto é, Fato Relevante, Sebrae, Mercado Comum e site Os Novos Inconfidentes

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