Por que fulano pode abrir a “bitaca” dele e eu não?

Por que fulano pode abrir a “bitaca” dele e eu não?

Tio Dedé tá aqui, pra colocar um pouco de luz nessa questão que é até simples, é só a gente elaborar um pouco. Segura na mão do tio e vem.

Recebi hoje um interessante questionamento, em que um amigo dizia “posto de gasolina, supermercado, garis, estão todos trabalhando. Só o comércio que transmite vírus?”. Não, com certeza não, mas esses aí têm particularidades. Vamos dar uma olhada nisso.

Estamos no meio de uma pandemia. O vírus, popularmente conhecido como Corona, tá desfilando por aí, livre, leve e solto. Ele surgiu na China, longe pra baralho, e em pouquíssimo tempo já tá espalhado pelo Brasil afora. Ele não chegou aqui num download mal feito, ele veio montado no lombo de algum caboclo, dentro do caboclo, de alguma forma inserido no vivente que o trouxe até aqui. É assim que ele viaja. Corona não tem programa de milhagem, ele vai pra onde quer e instalado na corcunda do vivente com o qual ele consegue contato. Daí a pouco vai pra mão, essa mão vai pro rosto, do rosto pro nariz e pra boca é um pulinho e ó, o cabra tá infectado.

Frentista de posto de gasolina pega e transmite. Gari pega e transmite. Funcionário de supermercado pega e transmite. Verdadezinha indigesta, né? A diferença é o que vamos ver agora.

Supermercado é onde compramos comida. A menos que você considere que comprar um par de chinelos é mais urgente do que comprar comida, já tá explicado porque o primeiro tá aberto e a lojinha de chinelos não está. Garis estão tão sujeitos quanto qualquer um de nós, e quando nós todos não estamos na rua, servindo de cavalo pro vírus, estamos diminuindo as chances de eles se infectarem enquanto estão fazendo esse trabalho importantíssimo por todos nós.

Posto de combustíveis é o mais óbvio de todos: viatura da polícia não abastece na loja de roupas, e ambulância não abastece no clube social. Nossos carros são abastecidos lá. E quando o amigo leitor encosta o carro no posto de combustíveis, ele não desce com a família toda, pra ficar todo mundo encostado no frentista, conferindo o cheiro e a cor do combustível. Ou desce? Porque isso as pessoas fazem nas lojas comuns, no balcão, não no posto, eu nunca vi. Percebeu a diferença, gafanhoto?

Existem comércios que são essenciais, outros não. No fim das contas, todos os lojistas, assim como todos nós, têm contas a pagar no fim do mês. O governo não fazer o que deve ser feito não significa nem nos dá o direito de fazer o que NÃO deve ser feito. Manter a quarentena e ficar em casa todo aquele que puder é, nesse momento, a melhor maneira de criar um ambiente saudável para cada um destes valiosos profissionais que não podem ficar isolados, e que tem trabalhado por nós. Quando a gente não tá batendo perna à toa na rua, estamos cuidando deles!

Ademais, com o mundo de cabeça pra baixo, lojista deveria agradecer ao alinhamento de planetas que criou essa quarentena. Nesse momento, qualquer funcionário insatisfeito por qualquer razão tá só esperando o primeiro espirro pra levar tudo pra justiça do trabalho. Aquele cliente que não gosta da loja tal por alguma razão vai correr pras redes sociais, e dizer que a sogra da tia da prima da irmã da cunhada do colega de trabalho dele tava bem de saúde, e foi só entrar na loja tal que adoeceu, agora tá tossindo igual o cachorro que tossia assim e não passou do terceiro dia.

Tá difícil, gente, eu sei que tá, mas precisamos nos manter firmes e unidos, ainda que separados. Temos que pensar em tudo e em todos, em todas as possibilidades, mas o grande barato vai ser manter todos os que pudermos em segurança! Essa crise vai passar, quase todos nós vão ficar bem, a economia vai se recuperar, de um jeito ou de outro, e a ciência vai nos liderar rumo à saída dessa bagunça toda. A ciência já nos salvou antes, e vai nos salvar de novo, mesmo sem grana pra pesquisa. Calma, Brasil!

André Santos

André Santos é funcionário público

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