Quem cuida das mulheres que cuidam?

Quem cuida das mulheres que cuidam?

É quase meia noite e a data do 8 de março se aproxima. 52 minutos me separam do Dia Internacional da Mulher. Neste instante estou no hospital, não por minha causa, mas em acompanhamento de alguém que amo. Enquanto espero, exercendo o dom de uma paciência que é feminina, olho ao redor e por todos os lados estou cercada por mulheres. Mais mulheres do que homens, mais mulheres que cuidam, que confortam que tratam com zelo os adoentados.

Perto daqui, em minha casa, outra mulher aguarda em vigília, cuidando dos meus filhos, cuidando indiretamente de mim ao cuidar dos meus filhos. Há pouco, encontro uma amiga querida, companheira de lutas políticas e movimentos sociais. Uma grande coincidência. Aqui ela estava com sua mãe, a filha buscando atendimento médico para a mãe. Uma filha dedicada que sempre se pergunta quais são as políticas públicas destinadas aos idosos da cidade.

Minha amiga trabalha em uma escola pública e, assim como eu, está rodeada de mulheres durante todo o dia. Mulheres que educam, mulheres que cuidam, mulheres que são exemplo para muitas crianças enquanto suas mães trabalham. Quem cuida das crianças das mulheres que educam? Quem cuida das crianças das mulheres que cuidam das crianças dos outros?
Quem cuida de todas essas mulheres que tratam os doentes aqui no hospital?

Como estarão elas após a saída do trabalho exaustivo e a entrada dentro de um coletivo sujo, cheio e caro que as leva até em casa? Como será o terceiro ou quarto turno de trabalho, dessa vez não remunerado, dessas mulheres em seus lares?

São muitas as perguntas, enquanto percebo que somos uma rede de mulheres tentando fazer o máximo para cuidar de tudo e de todos. Infelizmente, ainda são muitos os obstáculos, pouco o reconhecimento, poucos projetos voltados para nós e longos os caminhos da conquista de direitos, liberdade e igualdade.

Por fios invisíveis estamos conectadas, fios de cuidado e de amor. É preciso enxergá-los. É preciso nos enxergar. Gritemos juntas a nossa força até que todos nos vejam, nos ouçam e nos reconheçam como seres humanos iguais.

 

 

 

Camila Rajão

Historiadora e mestre em Letras, atua como professora da rede pública de ensino e pesquisadora nas áreas de História e Literaturas africanas. É presidente do Partido dos Trabalhadores em Pedro Leopoldo

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