Um passeio de bicicleta por Pedro Leopoldo

Um passeio de bicicleta por Pedro Leopoldo

Vera Cruz de Minas (Foto reprodução Facebook)

 

O barato da vida é observar como ela se desenvolve e apreciar a história e a cultura de um local ou região. Nesses últimos dias, adquiri um novo hobby, um novo lazer – o pedal. Entretanto, o meu andar de bicicleta é um pouco diferente do que vejo por aí, sem qualquer discriminação ou recriminação. Ando devagar, observando as pessoas e as paisagens. É um exercício, tanto de relaxamento, quanto de aprendizagem.

Nessa semana que passou, fui duas vezes de Pedro Leopoldo à Vera Cruz, pedalando com calma e observando a vida que segue ao longo do caminho. Para quem não conhece a minha cidade, Vera Cruz de Minas é um distrito de Pedro Leopoldo, na zona rural, muito mais antigo do que a sede. Lá morei alguns anos da minha vida – grande parte da minha infância – com o meu pai sendo administrador de uma Fazenda e minha mãe professora da escola local.

Logo no início, na região do Coqueirinho, encontrei com um senhor também de bicicleta, vendendo frutas e legumes. Com uma buzina na mão, passava pela estrada, chamando a atenção dos moradores para os seus produtos!! Passei depois por um pequeno sítio com curral, em que um outro senhor ordenhava uma vaca. Radinho de pilha em cima da porteira, sintonizado na Itatiaia que anunciava a previsão do horóscopo do dia.

Depois vieram as lembranças boas: uma das casas em que morei – hoje abandonada – como também estavam as velhas recordações de um tempo que eu não sabia que havia sido bom. Principalmente lembrei das mangas e goiabas que eu apanhava subindo nas árvores e do campo de futebol que eu tinha ao lado de minha casa – em que, nos finais de semana, reuniam uns trinta meninos para correrem atrás da bola.

Chegando em Vera Cruz, passei em frente à Escola que minha mãe, por anos, foi professora e diretora. Ahh, que saudade triste e feliz ao mesmo tempo…

Triste e feliz também fiquei quando cheguei na pracinha em frente à igreja. Feliz por algumas pessoas terem reconhecido o filho do sô Laércio e da dona Martha, vindo me cumprimentar. Triste por ver às 10 horas da manhã um antigo amigo bebendo cachaça, já àquela hora, em uma garrafinha de plástico. Um rapaz forte e ativo na adolescência, hoje com olhar longe e perdido.

Na volta, um senhor com uma enxada nas costas me para, pedindo um cigarro. Respondo que não fumo e ele me convida para almoçar em sua casa. Agradeço fingindo pressa, mas me arrependo depois. Deveria ter proseado com ele por mais algum tempo!!

Cheguei em casa renovado. A Vera Cruz de Minas dos meus tempos de criança parece ter parado no tempo, com a sua Praça, seu povo e, agora, suas igrejas. Sabemos que não é bem assim. Inclusive com a grave crise pelo qual o país passa e que afeta muito mais as comunidades carentes desse Brasil enorme e diverso.

Mas deu saudades… Saudades de um tempo que não volta mais. Acho que andarei mais de bicicleta por aquelas bandas, porque, no fundo no fundo, saudade é uma coisa boa… das lembranças de um tempo bom. Conhecer a nossa cidade é conhecer as nossas origens. Nos ajuda a ter um outro olhar para o nosso interior e valorizar mais as relações sociais e as coisas simples da vida. Mais do que nunca, em tempos de ódio, extremismos, fundamentalismo e autoritarismo, enxergar o próximo e a comunidade na qual estamos inseridos é um exercício e aprendizado de empatia e cidadania.

Que caminhemos e andemos mais por essa Pedro Leopoldo, para que possamos compreendê-la e conhecê-la melhor. Talvez seja esse, o primeiro passo para que ela de fato se torne, um dia, a cidade “ditosa e progressista do sertão”. Quem sabe… não custa tentar!!

Matheus Borges

Matheus Campos Borges, Servidor Público Estadual, graduado em Jornalismo e Direito com especialização em Direito Civil e Processo Civil.

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